ATA DA CENTÉSIMA VIGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA
QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 14.10.1987.
Aos quatorze dias do mês de
outubro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões
do Palácio Aluísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Centésima
Vigésima Primeira Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da
Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda
chamada, sendo respondida pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt, Aranha Filho,
Artur Zanella, Auro Campani, Bernadete Vidal, Brochado da Rocha, Cleom
Guatimozin, Clóvis Brum, Ennio Terra, Flávio Coulon, Frederico Barbosa, Getúlio
Brizolla, Hermes Dutra, Ignácio Neis, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, Jussara
Cony, Kenny Braga, Jorge Goularte, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Mano José, Nilton
Comin, Paulo Sant’Ana, Pedro Ruas, Rafael Santos, Paulo Satte, Raul Casa,
Teresinha Irigaray e Werner Becker. Constatada a existência de “quorum”, o Sr.
Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou ao Ver. Raul Casa que
procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, o Sr. Secretário procedeu à
leitura das Atas da Centésima Vigésima Sessão Ordinária e da Trigésima Sexta
Sessão Solene que, juntamente com as Atas da Centésima Décima Nona Sessão
Ordinária e Décima Nona Sessão Extraordinária, foram aprovadas. À MESA foram
encaminhados: pela Mesa, 01 Projeto de Resolução n° 45/87 (proc. n° 2317/87),
que cria Comissão Especial para examinar o Projeto de Resolução n° 30/87 (proc.
n° 1900/87), que altera a Resolução n° 785, de 05.10.83 (Regimento Interno);
pelo Ver. Adão Eliseu, 01 Pedido de Providências, solicitando calçamento das
Ruas, paralelas, Marieta e Tijuca, no trecho compreendido entre as Ruas Águas
Mortas e Caldre Fião; pelo Ver. Antonio Holfeldt, 01 Pedido de Providências,
solicitando troca de lâmpada queimada na Rua Lopo Gonçalves, esquina com a Rua
José do Patrocínio; pelo Ver. Artur Zanella, 01 Pedido de Informações, acerca
da área destinada para a efetuação de desfiles de Carnaval na Perimetral, da
extensão da Av. Augusto de Carvalho, desde a Av. Loureiro da Silva até a curva
da mesma, em direção à Borges de Medeiros, da extensão da curva até o prédio do
IPE, da distância entre a pista de rolamento da Av. Augusto de Carvalho até as
telas que cercam o Centro Administrativo, distância entre as pistas de
rolamento da Av. Augusto de Carvalho e o limite do Parque Maurício Sirotsky
Sobrinho, da largura da Av. Augusto de Carvalho; do Ver. Hermes Dutra, 01
Pedido de Informações, acerca do valor gasto pelo Executivo Municipal, de
janeiro a setembro do corrente ano, à conta das dotações de Serviços de
Terceiros e Encargos, com publicidade e promoções, das empresas que prestaram
serviços e dos periódicos que a Administração Direta e Indireta estão
imprimindo; 01 Projeto de Resolução n° 44/87 (proc. n° 2288/87), que cria a
Comissão Especial para examinar o Projeto de Resolução n° 39/84 (proc. n°
1945/84), que altera a Resolução n° 785, de 05.10.83 (Regimento Interno); pelo Ver.
Raul Casa, 01 Pedido de Informações, acerca do controle oficial do Órgão de
Saúde do Município de Porto Alegre sobre os equipamentos, em desuso, de
radioatividade; pelo Ver. Werner Becker, 01 Projeto de Resolução n° 43/87
(proc. n° 2287/87), que cria Comissão Especial para examinar o Projeto de
Resolução n° 24/87 (proc. n° 1737/87), que altera a Resolução n° 785, de
05.10.83 (Regimento Interno). Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios n°s 09/87, do
Sr. Presidente do Conselho Deliberativo do Montepio dos Funcionários do
Município de Porto Alegre; 567; 579; 580; 581; 583/87, do Sr. Prefeito
Municipal; 1220/87, do Sr. Coordenador do Sistema de Tributação do Ministério
da Fazenda; 3305/87, da Câmara Municipal de São João da Boa Vista, SP; Cartão
do Sr. Presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa, ARI; Telex do
Senador Jamil Haddad; do Senador Marcondes Gadelha; do Senador Nelson Carneiro;
Correspondências da Dep. Sandra Cavalcanti e da Secretaria Particular do
Palácio do Planalto. A seguir, o Sr. Presidente informou que, a Requerimento,
aprovado, do Ver. Clóvis Brum, o período de Grande Expediente da presente
Sessão seria dedicado a comemorar a Semana do Professor Municipal. Em
continuidade, o Sr. Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao
Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver.
Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Verª.
Teresinha Irigaray, 1ª Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre,
representando a Secretária Municipal de Educação e Cultura, Profª. Neuza
Canabarro; Profª Ana Lúcia D’Angelo, Presidente da Associação dos Professores
Municipais de Porto Alegre; Professoras Mariléia Castro e Suzana Uchoa Xavier,
integrantes da Associação dos Professores Municipais de Porto Alegre; Ten. Cel.
PM Eroides Prestes, representando, neste ato, o Comandante-Geral da Brigada
Militar, Ten. Cel. Jerônimo Braga. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a
palavra às Professoras Suzana Uchoa Xavier e Mariléia Castro, que discorreram
acerca das dificuldades enfrentadas pelas escolas municipais e sobre projetos
em andamento no Município com vistas a um maior incentivo da leitura e uma
maior conscientização da comunidade estudantil. Em prosseguimento, o Sr.
Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A
Verª. Teresinha Irigaray, em nome da Bancada do PDT, discorreu acerca dos
problemas enfrentados pelos professores municipais, em especial por aqueles
lotados nas escolas de periferia, face às precárias condições de trabalhos com
as quais convivem, pelos poucos recursos e pelo baixo nível de vida da
comunidade estudantil. Destacou a necessidade de valorização dos professores
municipais e augurou que sejam alcançadas as justas reivindicações dessa
classe. O Ver. Rafael Santos, em nome da Bancada do PDS, comentou que sempre
que se fala em Magistério Municipal, são ouvidos elogios, principalmente
àqueles professores que se dedicam às escolas da periferia da Cidade. Destacou
as diferenças existentes entre os alunos dos grandes colégios da Capital e
aqueles da periferia, onde a tarefa do professor é mais árdua em virtude da
situação carente das crianças que ali estudam, dizendo ser essencial um maior
investimento na área da educação de parte dos nossos governos. Cumprimentou a Profª.
Mariléia Castro, pelo Projeto Sala Cecília Meirelles, que está sendo
desenvolvido na Escola Municipal Grande Oriente, com o objetivo de ampliar o
mundo cultural infanto-juvenil. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do
PCB, comentou relatos feitos, hoje, na Casa, acerca dos problemas enfrentados
pelas nossas escolas municipais e projetos que vêm sendo desenvolvidos na busca
da superação de parte dessas dificuldades, salientando o significado da
educação para o progresso de um País. Atentou para a importância do incentivo
ao trabalho do professor e a necessidade de que essa classe não seja tolhida em
sua busca de um maior desenvolvimento da comunidade estudantil. A Verª. Jussara
Cony, em nome da Bancada do PC do B, falou sobre o descaso com que vem sendo
tratada a educação no País, destacando que esse setor, juntamente com a saúde,
arte e a cultura de um povo é fator decisivo para o processo de conquista de
uma sociedade democrática. Disse ser necessário dar um sentido progressista à
educação brasileira, lutando para que ela seja vista como prioridade nacional e
sejam buscadas soluções concretas para os problemas de falta de recursos,
reportando-se aos baixos salários, currículos inadequados e falta de democracia
nas decisões relativas ao setor educacional. Salientou a importância de que
sejam vencidas as forças retrógradas existentes neste setor, as quais têm
servido para a manutenção das forças dominantes no Brasil. Falou sobre a
trabalho realizado pela classe dos professores municipais na busca de maior
conscientização e democratização do País. O Ver. Antonio Hohlfeldt reportou-se
aos relatos feitos, hoje, pelas professoras Suzana Uchoa Xavier e Mariléia
Castro, acerca de projetos que estão sendo desenvolvidos no Município de busca
de um maior incentivo da leitura junto à comunidade estudantil. Comentando a
idealização que sempre observamos em torno da figura do professor, destacou a
realidade cheia de problemas vivida por essa classe em seu dia a dia. Lamentou
que ainda não tenha sido regulamentada a Lei n° 5756, de sua Autoria, que
autoriza o Município a utilizar o ISSQN advindo dos xerox da Cidade para a
aquisição de livros para as bibliotecas escolares. Ressaltou ser indispensável
a definição clara de parte do professor por uma ideologia progressista, para
que o mesmo não corra o risco de se transformar em mero reprodutor de
metodologias e de interesses da classe dominante junto às salas de aula. E o
Ver. Clóvis Brum, em nome da Bancada do PMDB, declarou que o objetivo de seu
Requerimento para a utilização do período de Grande Expediente da presente
Sessão para comemoração da Semana do Professor Municipal era oportunizar aos
Parlamentares da Casa a possibilidade de ouvirem testemunhos dos professores
das escolas municipais acerca da realidade encontrada nessas escolas. Discorreu
sobre o quadro crítico observado no setor educacional brasileiro,
cumprimentando a classe dos professores pelo seu empenho em modificar e
melhorar esse quadro. A seguir, a Srª. Presidente concedeu a palavra a Profª.
Ana Lúcia D’Angelo, em nome da Associação dos Professores Municipais de Porto
Alegre, agradeceu a presente homenagem, destacando estarem os professores
municipais realizando um reestudo de seu Plano de Carreira que em breve deverá
ser encaminhado esta Casa. Em continuidade, a Srª. Presidente fez
pronunciamento alusivo ao evento e suspendeu os trabalhos nos termos do art.
84, II do Regimento Interno, às dezesseis horas e onze minutos. Às dezesseis
horas e vinte e nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr.
Presidente reabriu os trabalhos convocando os Senhores Vereadores para Reunião
Conjunta das Comissões de Justiça e Redação, de Finanças e Orçamento e de
Urbanização, Transportes e Habitação, a ser realizada a seguir. Às dezesseis
horas e trinta minutos, o Sr. Presidente suspendeu os trabalhos, nos termos do
art. 84, III do Regimento Interno. Às dezesseis horas e trinta e oito minutos,
constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente reabriu os trabalhos,
convidando o Ver. Lauro Hagemann, Líder da Bancada do PCB, a conduzir ao
Plenário os Senhores Wladimir Stoliarov, Ministro Conselheiro da Embaixada da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no Brasil; Eng. Jesil Baungarten,
Presidente do Instituto Cultural Brasil-URSS; Paulo Silveira, Secretário-Geral
do Instituto Cultural Brasil-URSS, em visita à Casa. A seguir, o Sr. Presidente
concedeu a palavra ao Ver. Lauro Hagemann que, em nome da Casa, disse da honra
deste Legislativo em contar com a presença do Ministro Conselheiro da Embaixada
Soviética no Brasil, comentando a pauta cumprida por S. Exa. em nosso Estado.
Discorreu acerca da revolução socialista da União Soviética, que este mês
comemora setenta anos, declarando ter a mesma modificado a face da história
mundial. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Ver. Kenny Braga que, em
nome da Bancada do PDT, solicitou ao representante da Embaixada Soviética o
envio pela União Soviética, ao Brasil, de robos, chamados por controle remoto,
já utilizados no acidente ocorrido em Chernobyl, para que eles sejam utilizados
nos trabalhos relativos ao acidente nuclear ocorrido em Goiânia, a fim de que
possam, o mais rápido possível, serem atenuados os efeitos desse acidente. Em
continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Wladimir Stoliarov, Ministro
Conselheiro da Embaixada da União das Repúblicas Soviéticas no Brasil que falou
acerca dos motivos de sua visita ao Estado, comentando o estreitamento dos
laços de amizade entre o Brasil e a URSS, através da assinatura de contrato de
intercâmbio cultural entre nossos países. Discorreu sobre a estrutura política,
econômica e social da União Soviética e seu desenvolvimento nos últimos setenta
anos. A seguir, o Sr. Presidente agradeceu a presença dos visitantes e
suspendeu os trabalhos às dezessete horas e quarenta minutos, nos termos do
art. 84, II do Regimento Interno. Às dezessete horas e quarenta e sete minutos,
constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente reabriu os trabalhos. Na
ocasião, o Ver. Artur Zanella solicitou a retirada de Pedido de Informações de
sua autoria, encaminhado hoje à Mesa, acerca da área destinada para a efetuação
de desfiles de Carnaval na Perimetral. Ainda, o Sr. Presidente respondeu
Questões de Ordem dos Vereadores Isaac Ainhorn e Clóvis Brum, acerca do
“quorum” necessário para a Ordem do Dia e de Parecer da Comissão de Justiça e
Redação a esse respeito; do Ver. Isaac Ainhorn, acerca dos horários das Sessões
Solenes realizadas na Casa; do Ver. Hermes Dutra, acerca de Requerimento de sua
autoria, solicitando a transferência do horário das Sessões Solenes realizadas
na Casa para as dezessete horas; do Ver. Clóvis Brum, acerca do parágrafo único
do art. 71 do Regimento Interno. Ainda, o Sr. Presidente acolheu Questões de
Ordem dos Vereadores Aranha Filho e Isaac Ainhorn, acerca da tomada de
providências por parte da Mesa no que se refere ao uso do período de Grande
Expediente para homenagens pelos Vereadores da Casa. A seguir, constatada a
existência de “quorum”, foi iniciada a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e
Votação, Urgência, esteve o Projeto de Lei do Executivo n° 38/87, o qual deixou
de ser votado em face da inexistência de “quorum” qualificado para a votação.
Na ocasião, foi solicitada verificação de “quorum” pelo Ver. Clóvis Brum.
Constatada a inexistência de “quorum”, o Sr. Presidente determinou à Diretoria
Legislativa que os processos para votação sejam colocados em ordem cronológica,
ficando os que têm necessidade de “quorum” qualificado para o final e levantou
os trabalhos às dezoito horas e quinze minutos, nos termos do parágrafo único
do art. 71 do Regimento Interno, convocando os Senhores Vereadores para a
Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelos Vereadores Brochado da Rocha e Teresinha Irigaray e secretariados pelos Vereadores
Isaac Ainhorn, Ignácio Neis, Cleom Guatimozim e Teresinha Irigaray, como
Secretários “ad hoc”. Do que eu, Teresinha Irigaray, Secretária “ad hoc”,
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e
aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): O Grande Expediente do dia de hoje constitui-se numa
homenagem que visa a comemorar a Semana do Professor Municipal, a Requerimento,
aprovado, do Ver. Clóvis Brum.
Farão parte
da Mesa: Verª Teresinha Irigaray, 1ª Vice-Presidente da Câmara Municipal de
Porto Alegre, representando a Secretária Municipal de Educação e Cultura, Profª
Neuza Canabarro; Profª Ana Lúcia D’Angelo, Presidente da Associação dos
Professores Municipais de Porto Alegre; Professoras Mariléia Castro e Suzana
Uchoa Xavier, integrantes da Associação dos Professores Municipais de Porto
Alegre; Tenente-Coronel PM Eroides Prestes, representando, neste ato, o
Comandante-Geral da Brigada Militar, Tenente-Coronel Jerônimo Braga.
O requerido
pelo Ver. Clóvis Brum contempla, em primeiro lugar, uma palestra a ser
proferida a cargo da Associação dos Professores Municipais de Porto Alegre e,
para tanto, os microfones da Casa se encontram à disposição das pessoas
indicadas pela Associação. Primeiramente, ouviremos a Profª Suzana Xavier.
A SRA. SUZANA XAVIER: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, colegas, estou aqui
como professora municipal cedida à Faculdade Porto-Alegrense de Educação,
Ciências e Letras, para relatar um projeto que beneficia tanto a rede municipal
de ensino quanto parte da rede estadual. Esse projeto, através do Instituto de
Pesquisas da FAPA, em convênio realizado em janeiro de 1986 com a Secretaria
Municipal de Educação e Cultura e a Secretaria de Educação do Estado do Rio
Grande do Sul, é um projeto de integração dos ensinos de 1º e 3º Graus. Através
desta cedência de professores, há um benefício de ambas as partes, a Faculdade
Porto-Alegrense, que através desta cedência tem os professores dando aulas,
tanto na graduação como na pós-graduação, e também a rede municipal de ensino,
através de palestras, assessoramento em Língua Portuguesa e Literatura. Esse
projeto foi elaborado, então, por professores cedidos de quatro escolas
municipais de Porto Alegre e do Centro Municipal de Cultura e pela nossa
coordenadora da Faculdade Porto-Alegrense, e tem, por supervisora, a Profª Vera
Teixeira de Aguiar. E fazem parte deste projeto, além da minha pessoa, as Profªs
Neusa de Souza Baso, Luiza Vilma Pires Valle e Ana Maria Lisboa de Melo, que é
a coordenadora do projeto. O projeto desenvolveu-se em três fases. A primeira
delas, a pesquisa de campo, para diagnosticar a situação de leitura da rede de
ensino municipal-estadual; a testagem da metodologia da abordagem textual, criada
por nós e, finalmente, a terceira parte, que foram os cursos de treinamento que
terminaram no mês passado. As escolas envolvidas foram as escolas de periferia,
e o objetivo era atingir crianças de 1ª a 4ª série do 1º Grau. A idéia do
projeto veio da experiência dos professores em sala de aula nas escolas onde
trabalhavam, e esse grupo de trabalho iniciou antes mesmo da cedência dos
professores da Faculdade. Nós iniciamos o trabalho e quando saiu a cedência nós
começamos a testagem da metodologia, baseando não só na vivência que a gente
tinha junto às crianças, mas também em estudos que a gente fez, verificando que
o jogo é a parte mais importante da vida da criança nesta faixa etária que a
gente atingiu. Então, partindo daí e dos interesses das crianças dessa faixa
etária, a gente resolveu associar jogo e leitura para atingir os leitores que
nós queríamos. O sucesso foi bastante grande, desde a testagem da metodologia
até o final, quando nós divulgamos os resultados para toda a rede municipal de
ensino, quando os outros professores que não tinham sido diretamente atingidos
pelo projeto tiveram a oportunidade não só de conhecer o trabalho, mas, também,
criar as suas unidades de ensino baseadas nas que haviam sido feitas por nós e
aplicadas pelos colegas das oito escolas que se haviam proposto aplicar.
Outra coisa
interessante dessa cedência de professores é que os professores da rede
municipal de ensino têm à disposição, através da Faculdade Porto-Alegrense,
oito bolsas de estudo nos cursos de pós-graduação da Faculdade e mais vinte
bolsas nos cursos de extensão da nossa Faculdade.
Quanto à
nossa metodologia, ela se divide em quatro etapas. A primeira delas é a
motivação para a recepção do texto pela criança. A segunda é a leitura pela
criança. Como na nossa realidade a gente percebe que as escolas têm um acervo
muito precário, então nós baseamos todo o nosso trabalho com poucos livros, mas
a gente sabe que a criança necessita de contato direto, contato físico com o
livro, então, em todo o tempo, a proposta de trabalho era em grupos, dada a
dificuldade que a gente tem de conseguir material para as crianças.
A outra
etapa seria o levantamento e discussão das idéias contidas no texto. A última
delas, atividades criativas e variadas a partir do texto.
A nossa proposta
é lúdica devido a esses estudos que a gente fez e percebeu-se que a criança
dessa fase tem muita necessidade de jogo, brincadeiras, de ludismo; então, na
leitura, desde a preparação para receber o texto até a fase final, todas as
atividades são propostas através de jogos, brincadeiras, discutindo o texto,
lendo, interpretando, mas sempre através de brincadeiras. Dada a necessidade da
criança e daí por que o nosso projeto teve tanta aceitação diante da criançada.
Quanto aos
textos selecionados, foram também a partir daquilo que as crianças indicaram
como a sua preferência em leitura, tanto em prosa, como em poesia. Foram textos
bem diversificados, com ou sem legenda, histórias em quadrinhos, também, e
textos informativos e textos literários. E as crianças, na sua maioria,
sugeriram a leitura de poesia, que foi uma surpresa para nós, que nós não
imaginávamos que crianças de 1ª série à 4ª série tivessem preferência por
poesia. E têm.
Os
professores receberam as unidades prontas e todo o material que necessitavam
para aplicar estas unidades junto às crianças. Receberam todo o material da
Faculdade.
Então,
simplesmente, elas só aplicavam e depois, através de uma ficha, colocavam o que
as crianças tinham percebido, o que haviam gostado mais, o que gostariam que
fosse modificado. Sugestões.
A
divulgação deste projeto terminou no mês passado e agora nós estamos iniciando
um outro projeto que atinge o pré-escolar. Nós estamos organizando, em fase de
planejamento, ainda, um guia de leitura para a pré-escola. E pretendemos,
também, fazer o mesmo projeto, a partir deste aí, de 5ª a 8ª série, porque,
como eu falei, o nosso objetivo é a integração dos ensinos de 1º e 3º Grau.
Não me vou
estender muito, não quero cansar os Senhores aqui presentes, alguma informação
maior poderá ser dada. Sou grata.
O SR. PRESIDENTE:
Com a palavra, a Profª Mariléia Castro.
A SRA. MARILÉIA CASTRO: O professor de giz não pode falar sentado, é o velho
hábito. Bem, Senhores Vereadores, caros colegas professores, nós estamos aqui
para falar sobre um projeto, um projeto que se chama Sala Cecília Meirelles.
Nós viemos falar dos “comos” mas também dos “porquês” deste projeto e se é o
nosso dia e a nossa semana e a oportunidade tão rara que nos é dada de virmos
aqui nesta Casa do Povo, nós vamos fazer isso. Essa Sala Cecília Meirelles se
localiza na Escola Municipal Grande Oriente, uma das mais novas da rede
municipal, que está encravada no recesso de um núcleo da COHAB no Bairro Rubem
Berta, um daqueles que foi recentemente invadido. É ali que, como em todas as
escolas da periferia, o ônibus mais próximo fica a um quilômetro lomba abaixo,
com chuva ou com sol; é ali que, diariamente, vemos “os trabalhadores do
Brasil”, que fazem fila ao lado da calçada com seus baldes na mão, para
recolherem água das três bicas existentes, que não tem esgoto e nem água, que
dirá outra coisa; é ali que eles vão buscar água, lavar as cabeças, tanto das
crianças como adultos, e tudo o que puderem. Então, cotidianamente, ocorre um
interessante fenômeno: de manhã cedo, quando “os trabalhadores do Brasil” vêm
para o Centro da Cidade, atenderem os balcões das lojas, dos supermercados, dos
postos de gasolina, onde enchemos os nossos tanques, fazerem a comida das
nossas casas e cuidarem dos nossos filhos, nós, representantes da classe média
perplexa, que somos os detentores do saber e do conhecimento, vamos para dar
para dar aulas para os filhos deles. Vamos dar a educação número 2, porque,
como todo mundo sabe, existem dois tipos de educação: a n° 1, que é aquela que
os meus e os seus filhos recebem nas suas escolas e os prepara para amanhã ou
depois serem, como nós, reprodutores do “status quo”, e a n° 2, que é aquela
que nós damos – não porque queiramos, mas por não termos tido muita opção e nem
consciência suficiente – para os filhos desses trabalhadores, que são os que
produzem aquilo que em última análise é o nosso salário. A educação n° 2, como
todo mundo que pensa e reflete sabe muito bem, é educação, não é cultura. Ela
exclui tudo aquilo que é inútil e supérfluo do cotidiano embrutecedor desse
homem que trabalha: a arte, a cultura e os demais produtos de uma civilização
que há 40 mil anos, desde as paredes das cavernas, tenta se desembrutecer e
tenta se transcendentalizar; isso não é necessário. Então, recebe uma educação
n° 2, precária e insuficiente. Dos 100 que entram na 1ª série – 18 terminam a
8ª e recebem diploma. No Grande Oriente, tivemos a ousadia de achar, como
éramos uma escola nova, não tínhamos nada a perder, achamos que seria bom fazer
umas bagunças nesse esquema. Não tínhamos biblioteca, não tínhamos livros.
Livro? Obra literária? Para quê? É bobagem, está aí o banco de livros cheio de
livrinhos coloridos, cheio de textos. Falo especificamente da Língua
Portuguesa, que é o nosso chão. Livros coloridos, tão simpáticos, que a Nação
espalha aos quatro ventos com o nosso dinheiro. Ninguém nos perguntou se
queríamos livros e de que tipo. A resposta seria não. Por que dar aos alunos o
texto, a obra completa, coerente, que faz pensar, questionar, refletir, sentir,
rir, chorar, desesperar, cobrar? O texto fragmentado está aí. É mais prático, é
mais rápido, não dá trabalho. Só que tivemos a audácia de pensamos diferente,
graças à feliz equipe que, por acaso, se juntou – uma supervisora com uma
cabeça à altura dessa audácia, nossa amiga Ângela, a amiga Ingrid,
vice-diretora da escola, a quem precisamos creditar muito do mérito desse
projeto, se é que ele o tem –, e implantarmos coisas que começaram por uma sala
de leitura. Uma sala de leitura é uma sala onde se lê. Mas se lê como? Não como
numa biblioteca, com os alunos sentados em cadeiras, tendo que pedir a benção
de uma bibliotecária para retirar os livros, devolver e pagar multa, etc. A
sala de leitura supõe tapetes, almofadas, nós não as temos, por razões óbvias, o
aluno atiradão no chão, se quiser, de pernas para o ar, lendo, pendurado pelo
pé no teto, se quiser, mas lendo. Lendo e curtindo a leitura, e se supõe que
por trás disso haja professores que tenham a audácia de não cobrar dessa
leitura coisa nenhuma, nem as abomináveis fichas de leituras, nem outras coisas
do gênero, simplesmente o prazer de ler. A nossa civilização exclui o prazer, o
prazer é perigoso. A coisa prazerosa por si mesma é perigosa, ela pressupõe que
o homem é um homem destinado ao prazer e não exclusivamente ao trabalho e à
produção mecânica de bens. Então, por isso, o prazer por si só é perigoso. Nós
corremos este risco, está lá a sala de leitura, onde tiramos como se tira tudo
na educação brasileira. As duas grandes fontes de recursos da educação
brasileira são a rifa e a festa de São João. Então, fizemos uma rifa e
conseguimos colocar 210 volumes dentro desta sala de leitura, e ela está lá,
atendendo 1000 alunos, com 210 volumes. Não nos perguntem como, porque nós
também não sabemos, é milagre, são 1000 alunos nos dois turnos.
Mas aí a
coisa começou a ficar diferente, estas coisas são meio contagiosas, por isso
são perigosas, e aí se resolveu seguir adiante porque era pouco só ler o texto
escrito. Achamos que se precisa ler outras coisas. Então, começamos a
desencadear outros subprojetos, tivemos a petulância de desencadear o
subprojeto de história da arte, que consiste em trazer para o nosso aluno de
periferia, filho de operário, semi-analfabeto, ele entra semi-analfabeto e sai
semi-analfabeto, e chega no 2º Grau semi-analfabeto e sai semi-analfabeto. Nós
tivemos a idéia de que ele também precisa, como diz o art. 21 da Declaração dos
Direitos do Homem, que ele tem o direito de participar da cultura da sua
comunidade, e que, portanto, a arte, a grande arte, não só a arte popular,
porque este negócio de arte popular é muito “bacaninha”, o cara fica lá com a
arte dele e não se mete muito a querer a arte da gente, ficam lá com suas
artezinhas, arte popular, tudo bem.
Então, a
gente se desobriga, para que dar outra arte? Mozart, não precisa! Mozart é
inútil! Picasso, para quê? Isso não interessa! Van Gogh, para quê? História da arte egípcia, arte clássica, o que o cara
vai fazer com isto? Não vai fazer nada, vai ser com isto, apenas vai ser.
Então, começamos
a dar História da Arte. Estamos começando este projeto, não através da aula
explosiva e nem de pó de giz, porque no Brasil há 400 anos se dá aula do mesmo
jeito, nós damos aula hoje como os Jesuítas davam há 400 anos. É quadro negro e
pó de giz, de vez em quando uma alternativa. Nós, escola da periferia,
paupérrimos como sempre. Mas até que temos uma bela escola, a nossa, aliás, ao
dispor dos visitantes, uma escola de alvenaria muito bonita. São pequenos
detalhes, assim como: não tinha luz, não tinha merenda, não tinha fogão.
Nós
resolvemos começar a dar História da Arte através de “slides” coloridos e de
gravações. Como? Fazendo. Se a gente disser não tem, não pode, não existe,
vamos esperar que eles no dêem, até o ano 2000 a coisa não sai. Então, nós
fizemos, não perguntem como, tirando daqui e dali, correndo o pires. Nós
tínhamos um projeto de cinema, não é de filmezinho de segunda classe que a
gente pede emprestado e os caras vão lá passar umas cópias antigas, amareladas,
com uns assuntos que os alunos já entram dizendo: “Ih! Aquele negócio de novo”.
Não é nada disso. É o cinema que nós vamos ver.
Nós queríamos trazer aos alunos para o
Centro da Cidade para tirá-los daquele estigma da periferia e conseguimos,
graças à compreensão dos responsáveis por essas instituições, na verdade porque
é um direito que o povo tenha o uso dessas coisas. Conseguimos uma sala de
cinema na Casa de Cultura Mário Quintana, gratuitamente, entre aspas, mas
conseguimos que a Companhia Carris Porto-Alegrense transportasse nossos alunos,
só não conseguimos o aluguel dos filmes porque as multinacionais não são tão
sensíveis a esses apelos. Então, eles pagam vinte cruzados por cada vez para
irem assistir filmes como: “História Sem Fim”, “Labirinto”, “Tarzan, a Lenda de
Greystoke”, etc. E depois debatem, questionam, posicionam-se. É bem verdade que
houve um desencadeador nesse subprojeto do cinema, que é a grande paixão dos
nossos alunos, de quinze em quinze dias eles vêm ao Centro da Cidade assistir
ao seu filme e eles têm uma paixão profunda por esse projeto, é o encantamento
dos alunos do Grande Oriente. Isso só se tornou possível – evidentemente
tínhamos receio de arcar com o custo deste projeto – quando convidamos para nos
visitar o nosso amigo que se tornou o nosso primeiro padrinho – temos um
projeto de padrinhos, pois afinal estamos no Brasil e temos que ter padrinhos
para a Sala Cecília Meirelles, para dar uma força –, o Vereador e Escritor
Antonio Hohlfeldt. Ele, depois de nos visitar e nos dar apoio moral, nos deu
espontaneamente apoio material, através de uma contribuição sua, mensal, por
algum tempo, para deslanchar o projeto do cinema. Queremos dizer hoje, neste
momento, Antonio, que foi graças a esse teu gesto que todos estes alunos estão
tendo esta oportunidade que para eles significa imensas coisas. Foi o Antonio
que nos deu a coragem de assumir o ônus financeiro de alugar um filme por dois
mil cruzados, de pagar o carvão, a gorjeta do operador. Assumimos o projeto e
eu gostaria de ler, rapidamente, alguns parágrafos de opiniões dos alunos sobre
ele. São opiniões sinceras e não-dirigidas e sugeridas. Eles escreveram
realmente aquilo que sentiram a respeito. Alguns deles jamais haviam ido ao
cinema. Crianças de doze, treze anos que jamais haviam entrado numa sala de cinema
e que, provavelmente, continuariam por longos anos de suas vidas sem entrar e
sem saber como era uma tela de cinema. Vou ler. Menina da 6ª série: “Sempre
tive vontade de ir, mas nunca podia. Só podia imaginar e não ver de verdade.
Quando vi em minha frente uma tela enorme, fiquei muito emocionada. Vi o filme
‘História Sem Fim’. Gostei muito da tela, do filme mais ainda. Eu, na frente do
cinema, me sentia muito feliz. Parecia que estava dentro daquela tela,
participando com os atores do filme. A única coisa que espero é que nunca parem
com esse projeto. O projeto de cinema foi uma idéia muito boa. Uma das melhores
depois da sala de leitura, porque o cinema emociona a pessoa”; 7ª série: “Ótimo
o projeto, porque além de ser uma atividade de lazer, também quebra o tabu de
que educação é feita em sala de aula. Os filmes apresentados até agora nos
deram oportunidade de conhecer um universo de aventuras como o Tarzan, História
Sem Fim, etc, etc... Estou adorando assistir estes filmes, espero que continuem
com esse projeto, sendo apresentado não só em nossa escola, mas em todas do
País, se possível. Amém”. Projeto Matiné, 7ª série: “Já pensou se todas as
escolas tivessem a oportunidade de irem ao cinema de 15 em 15 dias, levarem
seus alunos a esta coisa maravilhosa, ampliando a cabeça das crianças? Quanta
coisa eu aprendi vendo estes três filmes. Todos foram maravilhosos. Muitas
crianças por aí nunca entraram num cinema. Estudar não é só ficar numa sala de
aula, aprendendo a ler e escrever. É sair, conhecer coisas novas, renovar a
mente, ampliar as mentes dos adolescentes. Aventura, suspense, tudo isto mexe
muito com a gente. É simplesmente maravilhoso este projeto”.
Do muito
que nós poderíamos dizer, mas não vamos dizer, temos que acrescentar apenas que
está previsto, também, um subprojeto de música popular brasileira e,
posteriormente, um subprojeto de música clássica, e infinitos subprojetos que
vão continuando enquanto nós tivermos condições, enquanto nos deixarem. Só o
que nós podemos dizer é o seguinte: Cíntia, já pensou? (Diz ela: Sim.) Nós já
pensamos, isso aí é assustador, isso aí nos encoraja. Por isso aí vale a pena
lutar, vale a pena levantar de madrugada, ganhar pouco, apanhar sol, chuva, ser
incompreendido, desrespeitado, injustiçado. Vale a pena. Já pensou? Nós já
pensamos. Muito obrigada.
(Não revisto pela
oradora.)
O SR. PRESIDENTE:
Falará, em nome da Bancada do PDT, a Verª Teresinha Irigaray.
A SRA. TERESINHA IRIGARAY: Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre;
Sra. Presidente da Associação dos Professores Municipais de Porto Alegre;
senhores professores que compõem a Mesa; senhor representante da Brigada
Militar; professores, professoras, Srs. Vereadores, senhores da imprensa,
senhores funcionários. Realmente, não é um dia para se festejar muito. Ontem,
eu também dizia isto sobre outra data, o Dia da Criança. Não há por que
festejar quando a criança está oprimida, quando a criança está infeliz, e
quando a criança não tem rumo nem alternativas neste País, quando é duramente
esmagada. O mesmo pode ser dito nesta tarde, com relação ao Magistério em
geral. Uma classe qualificada, fortalecida por um dia-a-dia de muito
sofrimento, e digo isto porque pertenço a esta classe, pois durante vinte anos
fui professora primária, sei o que representa o sacrifício de uma sala de aula,
sei o que representa dar aulas sem condições, sei o que representa dar aulas
para alunos azuis de frio e fome, embrutecidos por um lar cheio de problemas,
sei o que é caminhar dentro de uma vila popular sem ter as menores condições de
acesso até a escola, tendo que limpar e varrer essa escola antes de dar a aula
propriamente dita. Então, eu acho que, desde essa época até hoje, as coisas não
se modificaram muito em relação à figura do professor. Acho que é uma classe
assoberbada, uma classe que enfrenta grandes e difíceis problemas, uma classe
que tem sempre que aparentar estar bem, sempre tem que ser uma classe muito
digna, muito consciente, muito honesta na sua situação, mas sempre cheia de
problemas, problemas estes que dificilmente são compreendidos pelos
governantes. E a classe está sempre reivindicando, sempre lutando por melhores
dias, por melhores salários, por melhores condições. É, realmente, uma classe
que não tem muitas coisas a festejar, apesar dos dias de hoje apresentarem
algumas melhoras em relação aos diversos setores da educação. Nesta hora, o que
poderia eu dizer aos professores municipais de Porto Alegre, em sua semana? Que
eu espero que eles sejam compreendidos. Que eu espero que eles sejam bem
atendidos, em suas justas, reais e necessárias reivindicações. Desejo que todos
professores e professoras que estão neste Plenário da Casa do Povo tenham em
mente que o destino do Magistério, que a profissão do Magistério, que a nobre
missão de educar lhes permite também reivindicar por si e pela sua família. Que
eles sejam compreendidos, que eles sejam orientados, que eles sejam orientados
em seu grau de dignidade, que as greves que fazem, as reivindicações por que
lutam sejam bem entendidas pelos seus governantes, que os dias que virão para o
Magistério Municipal sejam dias luminosos, de muita alegria, de muito sol, que
as suas salas de aula sejam melhor iluminadas, que o nosso Governante, Prefeito
Municipal de Porto Alegre, e a Secretária de Educação do Município – que, tenho
certeza, estão preocupados com o Magistério Municipal – consigam dar aos
destinos educacionais de Porto Alegre o que realmente a Cidade merece: que as
escolas sejam edificadas, que as crianças que ali estudam sejam mais bem
sustentadas. Eu não sei se isto é um prognóstico viável, mas é o que eu acho
que o Governo está tentando fazer. Mas tudo isto dependerá, também, da união,
da luta dos dois setores, aliados e irmanados para que aquilo que nós
consideramos e bem comum, para que aquilo que é o centro da nossa atenção, que
é a criança, saia realmente fortalecido. Acho que, nesta hora, a Bancada do PDT
só pode desejar que os professores municipais prossigam suas lutas, prossigam
seus ideais, sejam os conquistadores, alcancem novos horizontes, que os caminhos
se abram, porque, realmente, eles são merecedores disto, dentro da classe
operosa que é, da classe representativa que é, e do significado que tem dentro
da cidade de Porto Alegre. Se todos soubessem a importância que tem o
Magistério Municipal, eu tenho certeza absoluta de que as reivindicações de
vocês seriam prontamente atendidas. É que não sabem ainda a força que o
Magistério possui, a força que as mãos das professoras possuem dentro e fora da
sala de aula. Desejo, como colega, como professora aposentada, que tenham não
só uma semana feliz, mas que tenham melhores dias e que seu futuro seja mais
promissor e feliz. Vocês realmente merecem. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pela
oradora.)
O SR. PRESIDENTE:
Falará, em nome da Bancada do PDS, o Ver. Rafael Santos.
O SR. RAFAEL SANTOS: Sr. Presidente, Srs, Vereadores, quem deveria falar, hoje, em nome
do Partido Democrático Socialista, era o Ver. Mano José, que estava designado
pela nossa Bancada, mas por motivo de saúde não pôde comparecer. Deste modo,
recebi a incumbência, acrescida da responsabilidade de representar, também, a
Bancada do Partido da Frente Liberal.
O fato de
não haver dado tempo para preparar algumas palavras para dizer, neste momento,
se de um lado é mau, por outro lado é bom, porque me permite divagar um pouco
sobre a educação e sobre o nosso querido Magistério Público. Segmento do
Magistério gaúcho, público e particular, reconhecido como um segmento
importante e como um segmento de destaque. E por que sempre que se fala em Magistério
Municipal se ouvem palavras de elogio e de respeito pelo seu trabalho? Em
primeiro lugar, porque é um segmento que trabalha fundamentalmente na periferia
da nossa Cidade, nas nossas vilas, e ouvindo a Profª Mariléia, estava eu
exatamente fazendo uma comparação entre o aluno da periferia e o aluno dos
grandes colégios da nossa Capital. Tive a felicidade de lecionar em colégios
públicos da periferia durante quase 10 anos e durante 14 anos lecionei no
Colégio Anchieta de Porto Alegre. Conheci e vivenciei as duas realidades e
realmente há uma imensa distância entre o aluno dos grandes colégios e os
alunos dos colégios da periferia da Cidade. Nos grandes colégios da Capital, a
tarefa do professor é quase somente despertar no aluno o interesse pelo estudo,
pela pesquisa, porque ele tem por si e sua família, por suas condições
familiares, todos os elementos necessários para estudar, pesquisar, para
vivenciar os problemas. Na periferia, o professor não é apenas o professor, é
um pouco de pai e mãe. O aluno da periferia é um aluno carente de tudo, carente
alimentar, carente de carinho, de compreensão e que precisa, antes de tudo, se
identificar com o seu professor, para que só então possa iniciar um processo de
aprendizagem. Ouvindo a Profª Suzana Xavier, sobre as deficiências na área de
bibliotecas de nossas escolas, me veio à mente a época em que exercia a
Secretaria Municipal de Educação e Cultura e as dificuldades enfrentadas para
se adquirir livros, porque, em realidade, meus caros colegas, enquanto no Brasil
não houver um sentimento global de que investir em educação é realmente
investimento, que tudo o que se gasta em educação é um investimento altamente
rentável e produtivo, nós viveremos nas carências que nós tão bem conhecemos.
Ouvimos, todos os dias, nos âmbitos estadual, federal e municipal, que o Poder
Público gasta muito com a folha de pagamento dos professores, e não vai sobrar
dinheiro para investimentos, como se gastar dinheiro com professores fosse
consumo, como se gastar com educação fosse consumo. É investimento, e é o mais
rentável, o melhor investimento que se pode fazer. No entanto, nós insistimos
em tratar o dispêndio com educação em consumo. Investimento é abrir estradas, é
construir usinas, é fazer ferrovias. Isto é investimento. É construir prédios.
Isto é investimento. Nós construímos um prédio para um colégio, é investimento,
mas no momento em que temos que levar para esta escola livros, no momento em
que temos de equipar esta escola devidamente, aí é consumo, aí estamos gastando
demais em consumo e não vai sobrar dinheiro para o investimento. E nós temos
lutado permanentemente em torno disto. Enquanto nos orçamentos do Estado, da
União e dos Municípios a verba de educação não passar de consumo para
investimento, enquanto os governos, a sociedade como um todo, não entender que
gastar com educação é investir no futuro deste País, e não é gastar em consumo,
nós viveremos esta luta e esta dificuldade permanentemente. Nós vemos todos
dias nos jornais: “aberto um crédito especial de 12 bilhões para construir a
estrada tal, a usina ‘x’ e assim por diante”. Nós nunca ouvimos dizer que
abriram uma verba de 12 bilhões para gastar nas escolas. Por que isso? Porque
gastar em escola é consumo. E é preciso investir. Nós ouvimos todos os dias
isso; enquanto não se modificar esta mentalidade, nós não teremos condições
boas de atendimento para a nossa criança. Eu quero cumprimentar a Profª
Mariléia, pelo projeto que estão desenvolvendo na Sala Cecília Meirelles. Quero
recordar e dar testemunho de um pequeno episódio ocorrido na época em que
exercia a Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Resolvi levar música
clássica para a periferia, resolvi levar para a Restinga o pianista Miguel
Proença. Levar um pianista para a Restinga e convencer o nosso Miguel Proença a
tocar na Restinga. Na noite aprazada, numa noite extremamente fria, chovendo
torrencialmente, enquanto me dirigia à Restinga, eu dizia: vai ser só eu e o
coordenador do Centro Comunitário, por obrigação; não vai ninguém lá para ver o
Miguel Proença tocar. Chegamos lá, o ginásio lotado de pessoas, jovens e
adultos, para assistir a um concerto de Miguel Proença. O nosso pianista
apavorado: “Como é que eu vou tocar aqui? Está uma barulhada e ninguém vai
prestar atenção”. “Proença, toca, toca qualquer coisa, mas toca”. E ele começou
a tocar. Acredito que nem no Teatro da OSPA, nem no São Pedro o silêncio foi
tão completo como naquela noite em que apenas se ouvia a chuva batendo no zinco
do ginásio. E, para espanto meu, um número bastante expressivo de adultos,
terminada a audição, queriam se aproximar do piano, para conhecer, pois nunca
tinham visto um piano, nunca tinham tido oportunidade de ver, ao vivo, um
piano. Quer dizer, a realidade da nossa periferia está tão distante da nossa
realidade! Se nós não tivermos esta oportunidade que somente o nosso Magistério
pode nos dar, de conhecer, de vivenciar essa realidade que nós, professores,
vivenciamos. Eu vi um aluno desmaiar, às 3 horas da tarde, e descobri que era
porque não havia comido desde o dia anterior. São realidades com essa que nós
precisamos levar ao conhecimento de nossas autoridades, ao conhecimento da
nossa população e da nossa classe média. Numa eleição que ocorreu em 1982, eu
apoiava um determinado candidato a Deputado Federal e resolvi levá-lo às nossas
vilas, na periferia da Cidade, até no seu interesse, porque eu queria conseguir
votos para ele. Até hoje esse Deputado diz, para quem quiser ouvir, que deve a
mim ter conhecido a realidade de Porto Alegre, porque ele, nos seus 50 anos de
vida, não conhecia, não tinha a mínima idéia do que era uma Vila Fátima, do que
era uma Vila Restinga, uma Vila Ingá, uma Vila Divinéia.
Então, nos
parece que, além de todo o trabalho, de todo o esforço que cada professor tem
que realizar para cumprir a sua tarefa de mestre, de pai, de mãe, de
conselheiro e de irmão mais velho, ainda tem uma grande tarefa a cumprir, que é
a de trazer ao nosso mundo a realidade de nossa Cidade. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não revisto pelo
orador.)
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): O próximo orador, Ver. Lauro Hagemann, falará em nome
do Partido Comunista Brasileiro.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sra. Presidente, Srs. Vereadores, muito pouco ou
quase nada se poderá acrescentar ao relato das professoras da entidade
municipal que nos prestam depoimentos que apontam justamente para o futuro. E
acho que esta é a melhor comemoração que se poderá fazer pela 1ª Semana do
Professor Municipal. Nenhuma Nação civilizada da atualidade conseguiu ser o que
é a não ser pela educação. Todo o desenvolvimento material foi conseguido à
base de um processo educacional adequado. Infelizmente, nós vivemos no Brasil
um atraso muito grande em relação a este processo educacional. Parece que nós
estamos fazendo aqui a reprodução pura e simples do “status quo” daquilo que
deseja a burguesia, o conservadorismo e até o reacionarismo dos detentores do
poder deste País.
Confunde-se
populismo com popular e estas coisas hoje já são ultrapassadas. O relato da
experiência da Profª Mariléia nos tocou profundamente, porque é uma inovação em
termos de processo educacional. Saímos pelo menos com o Projeto da Sala Cecília
Meirelles, do tradicional, daquilo que está estabelecido por anos e anos. E a
nossa preocupação, como uma homenagem a esta Semana do Professor Municipal, é
que deixem os professores realizarem o seu projeto.
Nos
preocupa que alguém possa tolher esta criatividade. E este deve ser o nosso
compromisso de Vereadores e homens públicos preocupados com o futuro deste
País, com o futuro da educação, de não deixar que se tolha, que se corte
iniciativas como esta. Os meios, a professora já disse de que dispõe: são muito
bons, mas basta a intenção, a criatividade e o trabalho que estão a
desenvolver. Por isso repito: este deve ser o nosso compromisso. Que se deixe o
professor, a professora, desenvolver livremente a sua criatividade, para que as
crianças possam aproveitar deste ensino não-formal. Um processo novo, um
processo integral de educação. Esta é a nossa homenagem às dedicadas
professoras municipais. Sou grato. (Palmas.)
(Não revisto pelo
orador.)
A SRA. PRESIDENTE:
A seguir, a palavra com a Verª Jussara Cony, do PC do B.
A SRA. JUSSARA CONY: Sra. Presidente, professores e professoras, Srs.
Vereadores, não é de hoje que se contesta o descaso com que é tratada a educação
neste País, e este descaso não é por acaso. Assim como a saúde, a educação, a
arte, a cultura de um povo são fatores de soberania nacional, são fatores de
independência, são fatores decisivos no processo de conquista de uma sociedade
democrática. Hoje, concretamente, no nosso País, quando passamos pelo processo
de uma Assembléia Nacional Constituinte que nós queremos democrata e
progressista, e que as forças de direita deste País querem retrógrada,
comprometida com interesses fora do nosso País, e quando em nossa Casa
Legislativa se dedica uma Sessão à Semana do Professor Municipal, é
imprescindível lembrar que a modernização da sociedade brasileira está a
reclamar mudanças fundamentais de temas referentes à educação, à cultura, à
arte, contrapondo-se, sim, às idéias retrógradas e obscurantistas. É decisivo,
hoje, num momento como este, assumir a necessidade de dar um sentido
progressista à educação e à cultura e o relato – não o relato, mas a luta
desenvolvida – feito pela Profª Mariléia, nos conduz exatamente neste sentido
progressista que queremos dar à educação em nosso País. E fundamentalmente é
preciso resgatar hoje aqui que a educação é prioridade nacional, que deve a
educação ser direito de todos e se constituir em um dever do Estado, que deve ter
como objetivo a formação de homens segundo os princípios da democracia
política, econômica e social, bem como os da própria soberania nacional. É
imprescindível que resgatemos que seja assegurado o ensino público e gratuito
em todos os níveis, para que haja ensino aos filhos e trabalhadores desta
Nação, os quais constroem a riqueza da 8ª economia do mundo, mas 6ª em miséria
e em subdesenvolvimento. Que as crianças de 0 a 6 anos de idade não fiquem à
margem, como têm ficado, do processo educacional; que os currículos, desde o
primeiro ao último nível, estejam voltados às resoluções do problema do povo e
do País, ao nosso desenvolvimento independente e ao progresso científico e
cultural que atenda às reais necessidades da Nação brasileira; que os currículos
possam estar voltados ao desenvolvimento do pensamento crítico; que haja
direito de fato à participação dos professores, funcionários, alunos e pais na
gestão democrática das escolas desta Nação. Há de se resgatar a luta por mais
verbas para a educação, para a manutenção e o desenvolvimento desse ensino,
pelo qual todos lutamos; há de se resgatar a dignidade dos educadores deste
País, com condições dignas de trabalho, com uma política salarial justa, com o
direito de fazer suas experiências e dedicação à educação para o progresso e à
justiça social. Mas não é esse o quadro que temos, aliás, ele é desolador.
Temos Governo, a nível federal, eleito não por nós; a nível estadual e
municipal, eleitos por nós, com votos dos professores comprometidos. Inclusive,
a prática política desses Governos bem tem demonstrado, com a manutenção do
atual estado de coisas, com compromissos claros e bem definidos, compromissos
voltados, exatamente, para aquilo que nós contestamos, a reprodução da
ideologia dominante. Onde a educação, assim como a saúde, é considerada não um
bem social, mas sim um bem comercial. Os erros cometidos com a educação, com a
saúde, mesmo erros de natureza econômica, no nosso País, são erros
fundamentalmente políticos, têm estado ligados ao modelo de Estado autoritário,
antiparticipativo, concentrador do poder político-econômico.
As
decisões, para resoluções desses erros, naturalmente, têm que estar ligadas à
plena participação da sociedade e são decisões eminentemente políticas. E é
nesse contexto, com a nossa Nação, inclusive, passando por uma grave crise de
estrutura de sociedade, é que estamos a refletir, nesse momento, sobre a
educação, na Semana do Professor Municipal.
Nos parece,
professores e professoras, que há que resgatar, aqui nesta Casa, inclusive a
participação que este Legislativo tem tido no processo educacional na cidade de
Porto Alegre. Nos é facultado muito pouco, é bom que se diga, na medida em que
retirada nos foi, pelo regime de obscurantismo em que vivemos durante muito
tempo neste País, a prerrogativa de legislar, por exemplo, sobre tributo e
orçamento. O que impede, temos certeza, a prevalecer pelo menos o entendimento
do que deva ser um Poder Legislativo, a participação popular nas decisões sobre
as prioridades de aplicação das verbas públicas no Município de Porto Alegre,
como em todos os Municípios brasileiros.
Recentemente,
ainda sobre a presidência da Verª Gladis Mantelli, na Comissão de Educação e
Cultura desta Casa, tivemos um relato e, por isso, dramático, da situação das
escolas do Município, das condições de trabalho dos professores e dos
funcionários, da falta de condições para ensino dos alunos.
Aliás, uma
das poucas prerrogativas que ainda resta ao Legislativo, essa basta que
tenhamos a decisão política de assumir: a de fiscalizar as ações do Executivo.
Vereadores da Comissão de Saúde, da Comissão de Educação e Cultura, como um
todo, sobre a presidência, na época, da Verª Gladis Mantelli, deram
conhecimento público de uma realidade que tem que mudar, demonstrando naquele sentido
o compromisso com as mudanças que se fazem necessárias. Os professores, em
todos os níveis, têm desenvolvido uma luta ferrenha na contestação dos atuais
valores de uma sociedade que muitas vezes os obriga, por currículos
comprometidos, a manter uma ideologia dominante. Os professores têm dado uma
valiosa colaboração, através de suas lutas, por suas entidades representativas,
com lições de participação, de organização e de democracia.
Exemplos
concretos? O do CPERS, na greve dos professores do Estado do Rio Grande do Sul.
Exemplo
concreto? O da Associação dos Professores do Município, presidida pela
companheira, Professora Ana Lúcia D’Angelo, tem sido um exemplo de participação
de luta pela gestão democrática do ensino em nossa Cidade, da luta por condições
dignas de trabalho, de justas reivindicações por salário justo. Desenvolvendo,
inclusive, trabalho junto com esta Câmara Municipal. Deram exemplo substancial
na última greve dos municipários, como todos, também na luta por condições de
trabalho e por salário digno, elevando inclusive o seu nível de organização.
Senhores e
Senhoras, ao saudar, em nome do PC do B, o nosso Partido, os professores do
Município, na Semana do Professor Municipal, homenagem solicitada pelo Ver.
Clóvis Brum, do PMDB, resgatamos aqui, antes de mais nada, a sua dedicação e
sua luta. Resgatamos aqui o quanto tem colaborado, com a sua participação, para
a conquista desse direito básico de cidadania, para a conquista de uma nação
democrática e soberana. E o quanto tem colaborado neste processo, de sua
participação, de sua organização e de sua luta, na contestação de uma estrutura
social que tem se revelado cada vez mais inviável, porque injusta. O quanto tem
sido para nós, importante, esta convivência, num aprendizado em conjunto.
E, ao
finalizar, queremos conclamar, neste momento, a uma unidade de ação, que hoje
passa pela unidade das forças democráticas e progressistas neste País, daquelas
forças que realmente querem avançar no sentido das mudanças para a nova Nação
brasileira, para conquistas fundamentais para o nosso povo e para o nosso País,
a continuar, nesta unidade, a luta pela educação como um direito de todos e um
dever do Estado. A luta pelo ensino público e gratuito em todos os níveis; a
luta pela gestão democrática do ensino, em nossa Cidade, em nosso Estado e em
nosso País. Por uma política salarial justa aos professores e a todos os
trabalhadores desta Nação. Por uma Constituinte democrática e progressista. Por
um fim de um Governo da República que não atende aos interesses do povo
brasileiro e pelas diretas para Presidente da República, no sentido de que,
através dessas lutas em conjunto, possamos alcançar a democracia em nosso País.
Espaço importantíssimo para avançarmos, isso sim, em nosso processo de
organização e de nossa luta para as necessárias transformações de uma estrutura
de sociedade que tem se revelado inviável, porque injusta para a maioria do
nosso povo e, nesse processo da educação, da aprendizagem, da luta e da
organização, para avançarmos para a conquista de uma nova estrutura social,
para a conquista do socialismo. Para isso o nosso mandato, para isso a nossa
luta em conjunto. E temos a absoluta certeza de que a Semana do Professor
Municipal é um passo à frente no processo de luta, de organização do professores,
dos municipários e da sociedade como um todo. Muito obrigada.
(Não revisto pela
oradora.)
A SRA. PRESIDENTE:
Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará pelo Partido dos
Trabalhadores.
O SR. ANTONIO HOHFELDT: Sra. Presidente, professores integrantes da Mesa,
professores aqui presentes, Srs. Vereadores, eu confesso que tinha uma certa
resistência de falar hoje, nesta Sessão, porque de discursos estéreis em
relação ao processo educacional neste País nós estamos cheios, nós cidadãos e
nós professores. E eu não queria ser conivente por alguma coisa que seria
apenas formal, nada mais do que isso. Mas, depois, fiquei sabendo que, na
verdade, teríamos oportunidade, apesar da ausência significativa dos Vereadores
no Plenário, os que aqui estamos teríamos oportunidade de assistir dois relatos
de experiências, por parte de alguns professores e isso me interessa, como
professor que sou de um lado e como Vereador que tem obrigação de estar atento
ao que ocorre nas escolas municipais. Pensei também, como integrante do Partido
dos Trabalhadores tenho a honra e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de
conviver com os dois educadores que se projetaram a nível nacional e
internacional numa série de propostas e debates em torno da educação brasileira
e da em geral: Professor Paulo Freire e Professor Moacir Gadotti, que se
incluem entre os nossos militantes do PT. Portanto, decidi vir a esta tribuna,
porque sabia que em primeiro lugar seria bem antecedido pelos meus
companheiros, sobretudo os Vereadores Lauro Hagemann e Jussara Cony, porque
temos feito sempre juntos um trabalho nesta Casa e, embora lastimando a
ausência, por motivo de viagem, da Verª Gladis Mantelli, que é outra que tem se
agregado à nossa luta, acho que tinha que trazer aqui colocações nossas. Em
primeiro lugar, relembrar que provavelmente nos próximos dias, até o dia 15,
tradicionalmente dedicado ao Dia do Professor, vamos ouvir discursos bonitos em
favor de um professor abstrato. O sacerdócio magnífico, a dedicação esmerada e
outras coisas que todos nós sabemos de cor e salteado. Na prática, no entanto,
estaremos colocando junto ao professor real e concreto, de salários defasados
tanto a nível estadual como municipal e escolas privadas, estaremos colocando a
força pública ou estaremos colocando as pressões das suspensões das licenças
médicas. Na realidade, em relação, por exemplo, ao projeto relatado pela
professora Suzana, a lei de minha autoria, Lei 5.756, que autoriza o Município
a utilizar o ISSQN advindo dos xerox na cidade de Porto Alegre, opção de
espoliação de roubo de direitos autorais, mas também eventualmente uma opção
nas escolas mais pobres, para alunos que não têm como eventualmente comprar o
livro. Esta Lei, que pretendia trazer o dinheiro do ISSQN para a aquisição de
livros para as bibliotecas escolares da nossa Capital, especialmente das
escolas públicas, continua, desde 1985, esperando que os Prefeitos desta
Cidade, nomeados ou eleitos, se dignem a regulamentá-la para que ela possa ser
praticada. Ou seja, continuamos sem verba para comprar livros para as nossas
escolas. Dentro do esforço que alguns desenvolvem, eu quero lembrar, aqui, a
Professora Jane Besteti e a equipe de vários professores que atuam em projetos
como este que a professora relatava, que esta Casa teoricamente deveria ter
conhecido, porque aprovamos há dois anos atrás a renovação do convênio com a
FAPEC, aqui neste Plenário. Mas estes projetos continuam sendo muito mais de
iniciativa e sustentação de alguns professores que acreditam neles do que
propriamente de decisão política, de assumição clara das autoridades, sejam
elas municipais ou estaduais. Acho que em questão de educação não se deve falar
muito e, sim, botar mãos à obra na coisa. É o que temos tentado fazer ao longo
dos anos, enquanto Vereador, tentando objetivar algumas condições como aquelas
alcançadas pela nossa Lei 5.693, que permitiu a eleição direta dos nossos
diretores e vice-diretores de escolas. Talvez possibilitou indiretamente aquilo
que a Mariléia agora relatava em relação a uma escola onde, em certo momento,
nós teremos um diretor eleito, uma diretora eleita, e nós teremos, portanto,
mais do que nunca, para além da situação de fato de hoje, e que já merece,
evidentemente, o nosso aplauso, um comprometimento crescente dos professores
que, eventualmente, vão desempenhar as funções de direção.
Mas eu acho, Sra.
Presidente, Srs. Vereadores, senhoras professoras, que, quanto se fala de
professor e educação, nós não podemos generalizar demais. Eu acho que,
obrigatoriamente, para que o processo educacional se mantenha dinamicamente,
nós temos que nos dar conta de que situações com as que foram narradas aqui,
projetos que se desenvolvem positivamente em alguns espaços educacionais, eles,
na verdade, estão antecipados por alguma outra coisa que é fundamental. O
Professor Moacir Gadotti chama a atenção de que antes de sermos professores,
antes de entrarmos na escola, antes de estarmos na sala de aula, nós somos
cidadãos, como quaisquer outros, com as nossas posições ideológicas e
políticas. E eu acho que, justamente, se conseguir fazer ou não alguma coisa,
apesar das dificuldades e adversidades, pressupõe exatamente esse antecedente,
ter ou não um projeto político, ter ou não uma ideologia claramente definida.
Sem isso, nós corremos o risco de transformar a escola e o nosso trabalho
simples reprodução de técnicas e de aptidões, quando, ao contrário, nós
devemos, necessariamente, pensar que no nosso trabalho se optará por uma das
duas alternativas. Ou nós mantemos o processo educacional como reprodutor da
ideologia dominante, ou, ao contrário, nós nos propomos a fazer a revolução
através da educação. Uma revolução que se coloca, como diz o termo, através de
uma maneira diferente de ver, ler o mundo. Nesse sentido, me parece que o
projeto narrado aqui, relembrado pela Profª Mariléia, é importante. A leitura
da realidade, a leitura do que nos rodeia, não apenas o texto literário, é
fundamental. E essa leitura não se dá apenas dentro da sala de aula, não se dá
apenas através da cadeira de comunicação e expressão, mas se dá permanentemente
através de toda e qualquer atividade que o professor desenvolva. Porque queira
ou não, o professor, para além da sua aula, para além da sua atividade, para
além daquilo que ele disse, ele é também um exemplo, ele é também um referencial.
E talvez até esteja educando mais fortemente neste momento do que através
daquilo que ele diga. Por tudo isso, o Projeto da Sala Cecília Meirelles, como
o convênio com a FAPA, os dois projetos aqui narrados, me parecem que são
momentos de exceção dentro do panorama demasiadamente plano que, infelizmente,
temos na educação brasileira, de um modo geral. Parece-me, portanto, nesse
sentido, que não nos adianta apenas nos queixarmos da falta de condições, ou
falarmos que é difícil fazer a tarefa. O Prof. Darci Ribeiro, que tantas vezes
tem sido citado nos últimos dois anos nesta Cidade, mas na realidade tão pouco
seguido, num ensaio ontológico chamado “Sobre o óbvio”, deixa muito claro o que
se pretende com a educação no Brasil. Diz ele que, ao contrário do que
tradicionalmente se lê e se ouve, a educação no Brasil não é um projeto falido,
não é um projeto malsucedido. Pelo contrário, é talvez, ao longo dos nossos
quatrocentos e poucos anos de existência como País dominado, o projeto mais bem
sucedido e mais bem realizado desta terra, porque, mais do que qualquer outra
coisa, a educação brasileira garantiu a marginalização da maior parte desta
população. Eu acho que isto é um ponto básico do qual temos que ter muita
clareza, porque a educação brasileira, dizia a Verª Jussara Cony, foi
transformada num bem comercial, sem dúvida. Mas foi muito bem visto, pelas
elites que exploram e dominam a nossa terra, como um bem ideológico, como um
bem de manutenção do seu “status”, e daí se explica por que, sempre que se fala
em educação, entre tantas outras coisas, a primeira resposta que ouvimos é: não
tem verba, não tem dinheiro. Não é por acaso que isto se dá. Mas, mais do que
isto, ainda que tivéssemos para construir os prédios, devemos nos dar conta,
permanentemente, que a educação não é apenas o professor na sala de aula, não é
o esforço físico disponível – e falo até porque vários dos Vereadores aqui
presentes são professores, universitários ou de 2º Grau, em diferentes momentos
de sua vida, como eu próprio – e nós sabemos que o trabalho da educação é,
fundamentalmente, a relação humana, pessoal e direta que se dá entre o
professor e cada aluno, não em relação impessoal, massificada, formal,
burocratizada. E este é um desafio que só nós, cada um de nós, mas através de um
projeto político, através da clareza ideológica, poderemos resolver. É evidente
que, com isto, não tiramos a responsabilidade das ditas autoridades. Evidente
que não. Mas queremos dizer que, mais do que isto, temos que ter clareza nestes
dois aspectos da análise: um, que o projeto que hoje temos de educação está
extremamente bem feito, porque visa a um objetivo que vem sendo atingido e que,
portanto, dois, a nossa definição ideológica deve nos indicar se seremos
coniventes com ele, ou, ao contrário, trataremos de subverte-lo na sua raiz.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE:
Com a palavra, o Ver Clóvis Brum, do PMDB, proponente desta Sessão Especial.
O SR. CLÓVIS BRUM:
Sra. Presidente, senhores integrantes da Mesa, Senhores Vereadores, senhores
professores, inicialmente quero agradecer aos Vereadores de Porto Alegre, meus
colegas de Câmara, que, mesmo não se encontrando presentes neste momento,
aprovaram meu Requerimento, que oportuniza este encontro que, muito mais que uma
Sessão para homenagear, se transformou numa tarde de trabalho na busca de
aperfeiçoamento deste processo de educação. Faço este registro para dizer que
era intenção, no meu Requerimento até um pouco “sui generis”, de que,
efetivamente, e o texto do Requerimento era este, de que os Vereadores ouvissem
nesta tarde. O normal e de praxe tem sido o Vereador subir à tribuna para fazer
a homenagem, homenageando muitas vezes em cima da miséria dos homenageados. O
que eu propunha e havia entendimento neste sentido do meu Requerimento com a
Sra. Presidente da Associação, de que aproveitássemos ao máximo esta
oportunidade, a fim de ouvir daqueles que têm permanecido ao longo os anos,
principalmente deste período ditatorial, quase de braços cruzados, marcados
pela prepotência do poder e que hoje, com abertura em que vivemos, eles, os
professores, passam a trabalhar em cima de processos e modelos capazes de mudar
esta situação triste da educação brasileira. Negar-se a aprender, negar que
aprendemos alguma coisa nesta tarde não seria correto e nem verdadeiro.
Gostaríamos de ter vivenciado e aprendido mais, principalmente este Vereador
que assumiu a presidência da Comissão de Educação há pouco mais de 30 dias e
que deseja aprender, sim, e que deseja colocar a Comissão de Educação a serviço
do Magistério, da criança, do educando, haja vista que pela primeira vez numa
Sessão se oportuniza a que três oradores homenageados falem. Nós gostaríamos
que falassem muito mais e apenas ouvíssemos. Mas, num País onde em cada 100
crianças, 100 brasileiros, 35 aproximadamente são analfabetos; num País onde
50% das crianças que estudam, que freqüentam, não digo estudam, eu retiro a
expressão estudam, que freqüentam a escola pública de 1º Grau, comparecem às
aulas apenas para se alimentar, matar a fome; num País onde o professor é
tratado a nível salarial com um dos profissionais mais mal pagos, mas, mesmo
assim, estes professores, sejam das correntes ideológicas que forem, buscam
aperfeiçoar e mudar esta situação triste em que vivemos e passamos neste País
de dimensão continental. De maneira, senhores professores, a minha presença na
tribuna é pelo PMDB; não é vigorosamente de homenageá-los, é apenas a de
cumprimentá-los no sentido da contestação, desta luta que os professores fazem
no sentido de mudar, de aperfeiçoar, de intervir, de participar das diretrizes
do ensino neste País. Pobre do nosso aluno se não se mudar esta situação que
está. Aprendi pouco, gostaria de ter aprendido mais, mas noutra oportunidade,
senhores membros da Associação, senhores professores, vamos fazer uma outra
Sessão só para ouvi-los. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Concedemos
a palavra à Professora Ana Lúcia D’Angelo, Presidente da Associação dos
Professores Municipais de Porto Alegre.
A SRA. ANA LÚCIA D’ANGELO: Sra. Vereadora Presidente da Mesa, membros da Mesa,
Vereadores e colegas professores, inúmeros professores municipais, professores
que com muito orgulho eu represento através da entidade Associação dos
Professores Municipais, agradeço a homenagem e a iniciativa do presidente da
Comissão de Educação, Clóvis Brum. Eu, depois de ouvir a todos, tenho pouco a
dizer, mas acato a proposta feita pelo Vereador, para que nós possamos, então,
continuar trabalhando juntos. Desde o início da nossa gestão, vínhamos
trabalhando juntos, propondo projetos, leis e fazendo estudos aqui, junto com
os Vereadores, sempre em benefício dos professores e, conseqüentemente, da
educação. Quero comunicar a todos que os professores municipais estão agora fazendo
um estudo, estão reestudando o seu projeto, o seu Plano de Carreira, que em
breve virá aqui para a Câmara. Então, nós queremos que esta homenagem aos
professores não acabe no dia de hoje, ela se dê sempre, sempre que chegarem
aqui projetos que beneficiem a educação, que beneficiem os professores e, em
especial, a este projeto de Plano de Carreira, porque ele visa ao melhor
trabalho com a educação aqui nas escolas municipais, ele visa à valorização do
professor municipal. Muito obrigada.
(Não revisto pela
oradora.)
A SRA. PRESIDENTE: A
Câmara Municipal de Porto Alegre, através da sua Presidente, agradece a
presença de todos os professores e professoras que lotam este Plenário,
agradece a presença da Sra. Presidente da Associação dos Professores Municipais,
das professoras que compõe a Mesa e trouxeram um relato muito rico de
experiências para todos nós; agradece a presença do Sr. Comandante da Brigada
Militar, a todos os Vereadores aqui presentes e felicita o Ver. Clóvis Brum,
pelo PMDB, pela feliz iniciativa que teve, pela feliz idéia de proporcionar
esta homenagem aos professores municipais. Realmente, nós tivemos uma aula de
experiências e de relatos e é isso que nós precisamos, Vereador. Nós precisamos
ter essas experiências e esses relatos para saber que a Cidade sobrevive, que
ela vive e que nós estamos do lado destes problemas. A todos os professores e
professoras esta Casa deseja felicidades nas suas reivindicações por uma luta
honesta, justa, digna, que vai proporcionar a todos nós a abertura de uma
sociedade mais justa, mais humana e mais fraterna. A Casa agradece e declara
suspensos os trabalhos, convocando os Srs. Vereadores para a Sessão normal,
daqui a dez minutos.
(Suspende-se
a Sessão às 16h11min, nos termos do art. 84, II, do Regimento Interno.)
O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha - às 16h29min): Estão reabertos os trabalhos da presente Sessão.
Antes de entrarmos na Ordem do Dia, suspendemos os trabalhos e convocamos os
Srs. Vereadores para uma Reunião Conjunta das Comissões, para examinarmos uma
série de processos pendentes.
(Suspende-se
a Sessão às 16h30min, nos termos do art. 84, III, do Regimento Interno.)
O SR. PRESIDENTE (às 16h38min): Estão reabertos os trabalhos da presente Sessão.
Antes de
passarmos ao período das Comunicações, o Ver. Lauro Hagemann deseja trazer para
o Plenário ilustres personagens da vida pública da URSS. Peço a todas as
Lideranças da Casa que providenciem para que os visitantes adentrem no recinto.
(Os
visitantes são conduzidos ao Plenário.)
O SR. PRESIDENTE: A
Mesa, assessorada pelo Ver. Lauro Hagemann registra a presença do Sr. Ministro
Wladimir Stoliarov, Ministro Conselheiro da Embaixada da URSS no Brasil, assim
como a presença do Eng. Jesiel Baungarten, do Instituto Cultural Brasil - URSS,
do Sr. Paulo Silveira, Secretário-Geral do mesmo Instituto.
A Mesa pede
que o Sr. Lauro Hagemann faça a saudação.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sr.
Ministro-Conselheiro Wladimir Stoliarov, Eng. Jesiel Baungarten, Sr. Paulo
Silveira, do Instituto Cultural Brasil - União Soviética.
Para esta
Casa do Povo do Município de Porto Alegre, é muito honroso receber a visita de
tão ilustre personalidade. É o segundo homem da Embaixada da União Soviética em
nosso País, que se encontra em Porto Alegre realizando visitas e cumprindo
compromissos de ordem funcional. Ontem à tarde, por exemplo, tivemos a presença
do Sr. Embaixador num jantar promovido pelo Partido dos Trabalhadores, em
comemoração ao 70° aniversário da Revolução Socialista de 1917. Hoje à noite,
S. Exa. comparecerá, como convidado especial, à posse da nova Diretoria do
Instituto Cultural Brasil - União Soviética, presidido pelo Eng. Jesiel
Baungarten.
Ontem,
ainda, S. Exa. visitou a FIERGS, deu uma entrevista coletiva na ARI. Hoje, pela
manhã, visitou o Sr. Governador do Estado, o Sr. Prefeito Municipal. E hoje à
tarde está cumprindo mais uma etapa de suas visitas protocolares, visitando
esta Casa, como também visitou a Assembléia Legislativa do Estado.
No ano em
que se comemora o 70° aniversário da Revolução Socialista de outubro é muito
grato para esta Casa receber a visita de tão ilustre personagem, porque a
Revolução Socialista de outubro não é um acontecimento específico da então
Rússia, ela se tornou, hoje, um patrimônio da humanidade, e como tal, por todos
os recantos do mundo, esse 70° aniversário está sendo já comemorado, e aqui,
como não poderia deixar de ser, nós, também integrantes da sociedade humana,
teremos que nos render a este acontecimento histórico que modificou a face do
mundo a partir de 70 anos para cá. E é com esse intuito que nós, Vereadores de
Porto Alegre, saudamos efusivamente a presença do Ministro-Conselheiro,
Wladimir Stoliarov, na nossa Casa do Povo, como uma homenagem aos legisladores
municipais, que são iguais em todo o mundo, não há distinção. Tenham o nome que
tiverem, nas mais variadas altitudes, a importância dos Conselheiros
Municipais, dos Vereadores, seja lá como se os quiser denominar, na sociedade
moderna, o poder local, hoje, tem uma nova função. As sociedades mais modernas
estão dando a devida importância a esse poder local, que é representado,
exatamente, por aquelas pessoas que mais diretamente convivem com as
comunidades das quais são oriundas.
É com esse
propósito que saudamos a presença em nossa Casa do Sr. Wladimir Stoliarov,
Ministro-Conselheiro da Embaixada da União das Repúblicas Socialistas no
Brasil. Seja bem-vindo e considere-se em sua casa. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE:
A Presidência da Casa, antes de oferecer a palavra ao Sr. Ministro-Conselheiro,
deseja dizer a S. Exa. da nossa honra e do nosso prazer em podermos, desta
Casa, a Casa do Legislativo de Porto Alegre, contar com a sua presença, em
primeiro lugar, mas, mais ainda, poder contar com a sua palavra, com a sua voz,
com a sua versão e com a sua história. Vivemos, nesta Casa, Sr.
Ministro-Conselheiro da Embaixada da União das Repúblicas Socialistas da União
Soviética no Brasil, um regime rigorosamente pluralista, onde temos nove
partidos com assento nesta Casa. A pluralidade de idéias, de objetivos bem
definidos em cada membro que dela faz parte, apesar da formalidade, tem no
fundo uma profunda substância e angústia que carregamos no dia-a-dia, de tal
sorte que a Mesa...
O SR. CLEOM GUATIMOZIM (Questão de Ordem): Sr. Presidente, pediríamos a oportunidade de que, em
nome da Bancada do PDT, o Ver. Kenny Braga dirigisse ao Ministro um pedido que
vai deixar claro agora.
O SR. PRESIDENTE:
A Presidência da Casa se sente à vontade, de vez que havia conveniado com o
Ver. Lauro Hagemann, mas a Casa, Sr. Ministro, sempre é aberta a ouvir e dar
ênfase às manifestações dela correntes. De tal sorte, que defiro o requerido
pela Bancada do PDT assim como abro por eqüidade às demais, se assim o
quiserem, porque dentro desta Casa não preside o espírito de censurar vozes,
apesar de conveniado com o Ver. Lauro Hagemann e não sabendo nós,
rigorosamente, a agenda que cerca no dia de hoje S. Exa., mas são coisas
naturais e próprias da democracia. Concedo a palavra ao Ver. Kenny Braga.
O SR. KENNY BRAGA: Tenho
certeza, Sr. Presidente, ilustre visitante, meus colegas de Câmara Municipal de
Porto Alegre, que, imediatamente, todos os Senhores entenderão o sentido da
minha presença aqui na tribuna, que é até muito rápida. O Brasil viveu, Sr.
Ministro-Conselheiro da Embaixada da União Soviética, um grande drama na cidade
de Goiânia, especificamente, um acidente de proporções terríveis que vitimou
brasileiros, irmãos nossos, e é um esforço, diria assim, um esforço conjugado
da comunidade científica internacional, para atenuar, para amenizar os efeitos
devastadores deste derramamento de Césio que acabou vitimando algumas pessoas
e, certamente, terá conseqüências muito desagradáveis.
Em nome da
Bancada do PDT, nesta Casa, e possivelmente eu o faço em nome de outras
Bancadas, nós queríamos reforçar o pedido do Governo brasileiro para que a
União Soviética mande o mais imediatamente possível os robôs, chamados por
controle remoto, e que foram utilizados em Chernobyl, num desastre terrível
também para a humanidade, para que nós possamos o mais depressa possível
atenuar os efeitos devastadores desse acidente.
Eu tenho
certeza de que dentro do espírito de cooperação da União Soviética, dentro da
visão internacionalista do socialismo da União Soviética, o Governo desse País
haverá de atender imediatamente à solicitação do Governo brasileiro, para que
tenhamos aqui no Brasil estes instrumentos de uma alta tecnologia e que nós não
dispomos no Brasil. Então, esta é a razão da minha intervenção como brasileiro,
como cidadão porto-alegrense, como Vereador desta Casa, preocupado com a
proporção tomada por este acidente. Preocupado com a perspectiva do futuro,
preocupado com o que possa acontecer em anos vindouros, é que eu reforço este
pedido e sei que falo em nome da Câmara, em nome da comunidade porto-alegrense,
em nome dos meus colegas Vereadores. Leve, portanto, Sr. Ministro-Conselheiro,
este pedido, que é um pedido feito do coração, de povo para povo, menos de
governo para governo, mas de povo para povo, porque é nos momentos de tragédia,
nos momentos de desespero que os países podem mostrar os seus préstimos e os
povos podem mostrar o seu espírito de solidariedade.
Esta é a
razão da minha intervenção, talvez extemporânea, mas feita do fundo do coração.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE: Após
ouvirmos o Ver. Kenny Braga fazer uma demonstração eloqüente de nossas
preocupações, sempre correntes num país como o nosso, repito que a Câmara
sente-se honrada em poder acolher o Sr. Wladimir, ouvir sua voz, e deixar
registrada na nossa Câmara Municipal de Porto Alegre a sua versão e repetir os
nossos sentimentos de fraternidade, que nos ligam, e o nosso sentimento de
honra de um lado, e, de outro lado, de fraternidade humana que, tenho certeza,
independente de quaisquer circunstâncias, devem pousar em cada um de nós. Por
isso, a Câmara, compreendendo, talvez de uma forma muito rápida, a importância
da sua estada aqui, que representa uma história e, sobretudo, um momento que a
vida brasileira proporciona a nós todos, de podermos escutá-lo, numa
singularidade para alguns e para outros a ventura de apenas poder escutar a
voz, as palavras de um representante da União Soviética.
Com a
palavra, o Sr.Wladimir Stoliarov.
O SR. WLADIMIR STOLIAROV: Com sua licença, porquanto não temos um intérprete,
vou tratar de falar em português, para facilitar o nosso entendimento. Prezados
senhoras e senhores, meus amigos, para mim é um grato prazer estar hoje junto
com vocês na Câmara Municipal de Porto Alegre. Para mim, é uma grata
oportunidade de me dirigir a vocês nestes dias muito importantes para o nosso
País, que está em vésperas da sua maior festa nacional, o 70° aniversário da
grande Revolução Socialista de outubro, o 70° aniversário da fundação do nosso
País. Nós nos alegramos muito, porque esta festa não só é festejada e celebrada
na União Soviética, pois os nossos amigos do exterior, todos os que simpatizam
com a causa comum de todos os países, estão compartilhando conosco o sentimento
de alegria nestas vésperas da grande festa nacional da União Soviética. Quero
dizer que nós estamos muito agradecidos aos cidadãos e às autoridades de Porto
Alegre, porque aqui, há mais de 25 anos, está funcionando um dos primeiros
institutos do intercâmbio cultural Brasil-União Soviética. E aqui temos o
Presidente do Instituto, o Paulo Silveira, que, há mais de 20 anos está
empenhado nesta causa, com o tempo total. Para nós, diplomatas soviéticos, é
motivo de grande satisfação trabalhar neste grande país como é o Brasil. Grande
não só por sua extensão geográfica e riquezas, mas, sobretudo, pelo espírito
trabalhador do seu povo, pelas suas possibilidades econômicas, dinamismo do seu
desenvolvimento, presença cada vez mais marcante no cenário internacional. Com
grande prazer, posso destacar igualmente o avanço progressivo das relações
soviético-brasileiras, às quais, na União Soviética, atribuímos a maior
importância. São provas concretas das aspirações mútuas e estreitamento dos
laços bilaterais dos nossos dois países, foram os resultados concretos da
recente visita do nosso Ministro Edward Shevardnadze, dos Negócios Estrangeiros
da União Soviética. Quero lhes informar que nossos dois governos, durante esta
visita, assinaram o acordo cultural entre a União Soviética e o Brasil,
assinaram o acordo sobre a programação em longo prazo de cooperação nas áreas
comercial, econômica e técnico-científica. Nossos dois Ministros concordaram em
emitir comunicado conjunto muito forte na substância, no seu conteúdo. Outros
resultados politicamente muito apreciados são que o Presidente reiterou o
convite para o Sr. Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral do nosso Partido,
visitar o Brasil, oficialmente. Por nossa parte, reiteramos o convite para o
Presidente José Sarney visitar a União Soviética oficialmente, num futuro
próximo. Pensamos que o Presidente Sarney poderá viajar para a União Soviética
em visita oficial já no primeiro semestre do ano que vem.
Essas
visitas que realizamos e vamos realizar no futuro são testemunho eloqüente da crescente
amizade e consideração entre nossos dois povos.
Partindo do
espírito de entendimento e interesse mútuo, e, sinceridade, próprios para nosso
diálogo bilateral, gostaria de me referir a alguns aspectos da vida da
sociedade soviética que hoje interessam muito. Estou em Porto Alegre, no
segundo dia, já participei, como falou o Ver. Lauro Hagemann, de diversas
atividades. Sinto, vi com meus próprios olhos, o interesse para o meu próprio
País, para os processos que estão hoje decorrendo na União Soviética.
Estamos
gratos a esse interesse dos brasileiros para com o nosso país porque vemos
nesse interesse a reflexão direta de intenção de conhecer mais a fundo sobre o
que está acontecendo na União Soviética, de conhecer detalhadamente todos os
pormenores dos processos políticos, econômicos e culturais e sociais que estão
decorrendo lá hoje. E só conhecendo um ao outro os povos podem travar e
fortalecer a sua amizade. O nosso país, fundado em 1917, vai comemorar, dentro
de três semanas, o seu 70° aniversário, o aniversário da grande Revolução
Socialista de outubro. É claro que se trata de um período historicamente muito
curto, mas foi um período de significado extraordinário para nós, soviéticos.
Durante estes anos, o povo soviético percorreu um imenso caminho de
transformações políticas e sociais. Este caminho não foi nada fácil. Logo
depois da Revolução, sobrevivemos à Guerra Civil; contra o nosso país, 14 países capitalistas começaram a
interferência contra o país; a interferência estrangeira, a destruição quase
total dos nossos Estados, a fome e a miséria foram o quadro de 70 anos atrás no
nosso país. O curto período da construção pacífica foi interrompido pela II
Grande Guerra, que custou ao povo soviético 20 milhões de vidas e inéditas,
enormes perdas materiais e humanas. Não somente sobrevivemos, mas vencemos
todas estas enormes dificuldades, e vencemos por nossa conta própria, sem
nenhum apoio de fora, mas graças ao empenho, coragem e determinação de nosso
povo, graças ao nosso regime socialista, que assim provou a sua viabilidade e o
seu imenso potencial criativo. Durante aquele curto período transformamos um
país semifeudal, atrasado, analfabeto, num Estado moderno, altamente
desenvolvido, que hoje figura entre as maiores potencias do mundo. A União Soviética
é um País de total emprego, em plena alfabetização, direito à moradia,
educação, assistência médica plenamente garantida pelo Estado, onde nenhum
cidadão tem medo do futuro, país que foi o primeiro a lançar um satélite ao
espaço extraterrestre, alcançou notáveis realizações na área da cultura da
ciência e da tecnologia. Mas isso não significa que nós já podemos achar, estar
convencidos que já fizemos tudo. Estamos cientes de nossos problemas, e nós
realmente temos problemas, como qualquer outra sociedade. E nem tudo satisfaz,
hoje, ao nosso país. A nossa sociedade não fica parada. Se encontramos
problemas que dificultam o nosso avanço, falamos sobre isto abertamente, não
escondemos os nossos erros e falhas, omissões, procuramos encontrar o caminho certo.
No momento, sentimos mudanças em nosso país, que sem dúvida nenhuma podem ser
caracterizadas como revolucionárias em sua envergadura e significado para o
nosso país. Trata-se de transformações profundas em todas as áreas, econômica,
política e social, das mudanças nas consciências das pessoas da União
Soviética. A meta final dessas mudanças é a segregação do processo
socioeconômico do nosso país para melhorar consideravelmente a vida do nosso
povo; noutras palavras, aproveitar com maior eficiência as possibilidades do
nosso regime. A tarefa geral é renovar todos os aspectos da nossa vida, da
sociedade soviética; atribuir à nossa sociedade as formas mas modernas, mais
eficazes em todas as tarefas da produção e ciência. Essa é em resumo a política
da reestruturação na União Soviética. Portanto, se enganam muito aqueles que
acham que essas mudanças na União Soviética minam o socialismo, desviam-no do
seu rumo histórico, quem fala dos dois sistemas políticos sociais. O que está
sendo feito hoje na União Soviética visa consolidar o socialismo e ensejar o
seu progresso, atribuir-lhe formas mais modernas, garantir um novo estágio no
seu desenvolvimento. Concentramos os nossos esforços em intensificar o
desenvolvimento econômico, o progresso científico-tecnológico e aperfeiçoar as
formas de administração da economia, estimulando ainda mais o trabalho como
valor e critério fundamental do bem estar das pessoas e da sua iniciativa e a
criatividade. Para alcançar os objetivos que nós traçamos, estamos provendo em
primeiro lugar uma reforma radical da questão econômica, para torná-la mais
eficiente e flexível. Aqui cabe uma observação: as bases da nossa economia
foram lançadas nos anos 30, quando o País se encontrava numa situação
extremamente difícil, e a forma objetiva exigia o centralismo rígido da gestão
para garantir um rápido crescimento do potencial industrial. Na época, deu seus
resultados inéditos, colocando a União Soviética, em dois anos, precedendo a 2ª
Guerra Mundial, da 4ª para a 1ª posição na Europa e da 5ª para a 2ª no mundo em
termos de produção industrial. Mas, a revolução científica e tecnológica, a
crescente complexidade da tecnologia, a necessidade de dar prioridades a
métodos intensivos, a características qualitativas e não quantitativas, exigem
a remodelação do sistema da gestão econômica. O exemplo do aperfeiçoamento de
formas da gestão econômica é a Lei das Empresas Estatais, aprovada em julho
último e plenamente discutida no âmbito nacional. A Lei das Empresas cria
condições qualitativamente novas para o funcionamento desses núcleos de
produção dentro da economia nacional. O novo sistema transforma as empresas,
antes sujeitas a uma série de regras e diretrizes centrais de produção, lhes
abastece e lhes dá uma certa independência dentro do marco de toda a economia.
E nesses encontros que eu tive aqui em Porto Alegre, me perguntaram, diversas
vezes: “E o Plano? Onde está a planificação da economia socialista? Todo mundo
sabe que a economia socialista é planificada. E como vai funcionar o Plano
nessas novas condições da reforma econômica?” Primeiro: o Plano continua sendo
a base para o desenvolvimento do país; o planejamento é o princípio fundamental
da nossa economia e vai continuar. O Plano definirá as prioridades básicas,
sobretudo em longo prazo, conforme objetivos do desenvolvimento econômico,
técnico-científico e sociocultural do país. A execução do Plano será garantida
não através das diretrizes administrativas, especialmente das que já
praticamente se esgotaram na sua eficiência, mas através de estímulos
econômicos por parte do Estado, o que quer dizer, pelo sistema de preços,
regime de abastecimento, créditos, etc. Outra questão que interessa à opinião
pública diz respeito à ampliação da atividade produtiva individual. Nesse
sentido, também temos uma lei, recentemente aprovada, que permite e cria
estímulos para tal atividade em várias áreas, principalmente de serviços. As
pessoas interessadas podem desenvolver referida atividade em tempo livre do
trabalho nas empresas estatais, sendo garantidos todos os seus direitos. É
evidente que tal atividade será regulada pelo Estado, que assegurará a sua
legitimidade e conformidade com os princípios do nosso regime social. Como
demonstra a prática, o trabalho individual em certas áreas é um eficiente
complemento à produção das empresas estatais e oferece possibilidades
adicionais para atender as necessidades do nosso povo.
Tomamos
medidas para aperfeiçoamento substancial de atividades na área do comércio
exterior. Uma série de ministérios e grandes empresas ganharam o direito a
fazer o mercado externo. Está na base da organização e administração das
relações econômicas e comerciais com outros países. Foi criada uma série de
normas jurídicas, com fim de promover relações econômicas em entidades
estrangeiras, inclusive com operação técnica, científica, industrial e criação
das empresas mistas, em particular no território da União Soviética e no
território dos outros países.
Quero dizer
que ontem, quando estivemos na FARSUL, depois da minha conferência sobre a
nossa Reformulação Econômica, os empresários do Rio Grande do Sul mostraram
grande interesse sobre este assunto, considerando, e nós também consideramos,
que a Reformulação Econômica na União Soviética, as medidas para agilizar o
comércio exterior, vão trazer grande benefício, não só para a União Soviética,
vão trazer benefícios, também, desenvolvimento para o comércio exterior com os
outros países. Nós, realmente, como descobrimos na conversa de ontem, temos
muita coisa em comum. Nós temos a tecnologia muito avançada na extração de
carvão, nós temos a tecnologia avançada com trabalho com xisto, nós temos a
tecnologia avançada de obtenção de álcool ou de metano de madeira, e essa
informação encontrou terreno frutífero de interesses entre os empresários da
FARSUL. Tem outras áreas diferentes que poderemos usar na possível cooperação
direta entre a União Soviética e o Estado do Rio Grande do Sul.
Ontem me
fizeram três ou quatro perguntas de como vão funcionar na União Soviética as
empresas mistas, as empresas estrangeiras. Isto não significaria que a União
Soviética está abrindo as suas portas ao capital estrangeiro, as suas portas se
fecharam há 70 anos atrás às multinacionais que estão explorando os outros
países. A resposta ainda foi negativa. Decididamente negativa, porque nós
precisamente tomamos medidas para criar a legislação que não permite às
multinacionais e às empresas mistas fazerem o que quiserem. O que as
multinacionais fazem em outros países. O nosso Estado, o nosso país, vai manter
sempre o controle acionário das empresas mistas. Isto é, 50% do capital sempre
vai pertencer a nós, sendo garantida, desta maneira, não só a canalização dos
esforços desta empresa na direção necessária, mas também garantindo para os
estrangeiros direito ao lucro, conforme a sua participação.
Todas estas
questões trabalhistas serão resolvidas em conjunto com os parceiros, de acordo
com a legislação soviética e contratos assinados com a Sindical. Aqui está o
lado bem diferente da nossa política econômica, do que acontece às vezes nos
outros países do mundo. Esperamos que o conjunto de medidas de reformulação nos
permita administrar a economia, elevar o bem estar do nosso povo soviético. Mas
já os primeiros resultados da reforma são motivos positivos de otimismo para
nós. O balanço dos anos 85 e 86 demonstra mudanças positivas na economia,
aumento de índices de crescimento, ultrapassando as metas do plano. E os
objetivos do futuro são ainda maiores, posso dizer gigantes. Com base na
reestruturação, nós pretendemos aumentar em duas vezes, nos próximos quinze
anos, o nosso potencial industrial. Em outras palavras, nos próximos quinze
anos, nós vamos fazer tanto como o que o nosso país fez nos 70 anos depois da
Revolução.
Agora, umas
palavras sobre a política que em todo mundo ficou conhecida com o nome de
“Glasnost”, transparência, são realmente os poderosos veículos de
reestruturação moderna da sociedade soviética. O objetivo da reestruturação é
renovar todas as nossas esferas de vida, e o veículo desta política é o
aprofundamento da nossa democracia e a “Glasnost”, transparência, e outras
medidas e, especialmente, a introdução, a ampliação da democracia nas empresas
estatais, nos coletivos. A essência de transparência é atrair de forma mais
ativa os cidadãos para a questão do Estado. Ela significa que não existe
nenhuma pessoa que, afastando-se do trabalho a favor da sociedade fica fora da
crítica e a crítica também é um poderoso veículo da nossa política de
reestruturação. Ela significa que cada um deve se sentir responsável por tudo que
acontece na sua empresa, na sua cidade, no seu país. Ela significa que cada um
deve tratar os respectivos problemas de forma criativa, procurando dar a maior
contribuição para o bem de todos. A transparência está estritamente ligada,
sobretudo, às metas dos problemas socioeconômicos. Já mencionei a ampla série
de medidas de reorganização da gestão das empresas, referente às condições
econômicas de seu funcionamento, mas o ponto de partida consiste no fator
humano, na transformação do trabalhador num dono ativo da propriedade social e
com este fim estão sendo dinamizadas as funções dos coletivos dos
trabalhadores. Segundo a lei das empresas, os coletivos dos trabalhadores
passam a ter os mais amplos direitos, desde a participação direta na solução de
todas as questões da atividade das empresas, administrativa, produtiva, social,
até eleger os seus dirigentes até os mais altos cargos. Segundo esta lei,
agora, cada fábrica, cada coletivo vai eleger o seu chefe imediato: chefe de
produção, chefes gerais, ou seja, diretores das fábricas, pois se os nossos
trabalhadores se tornam o dono realmente de sua propriedade, se interessam de
forma mais profunda para ver quem vai administrar essa empresa, e cada
trabalhador quer ver como chefe da empresa uma pessoa capaz, competente, um
alto profissional. Já a primeira experiência de tais eleições abertas e
democráticas demonstra resultados impressionantes, estimulando a ampla
discussão em torno dos problemas da empresa, crescimento da sua produtividade,
aumentando a responsabilidade dos diretores perante o coletivo. Como os
Senhores sabem, promovemos também mudanças no sistema eleitoral, no contexto
político. Às vezes, porém, oferecem uma visão errada daquilo que acontece na
União Soviética, falam das eleições diretas e secretas; a verdade é que se
passou de um sistema único para eleição entre vários candidatos. Do ponto de
vista social, isso tem como base as contradições entre vários grupos, não
existindo classes antagônicas. Mas, o atual estágio de desenvolvimento de nossa
sociedade é o momento propício para tais mudanças, considerando a necessidade
de elevar a atividade e a responsabilidade dos representantes legítimos do
povo, com o fim de alcançar as metas de reestruturação. Ao lado dessas
mudanças, assistimos o aperfeiçoamento de outros mecanismos da democracia
socialista.
Os
soviéticos estão decididos pelo processo de reestruturação e demonstram um
verdadeiro empenho na execução, manifestando-se pelo seu aprofundamento
contínuo. Perguntam, com freqüência, se há oposição interna a esse processo, se
há oposição política, etc. A resposta é categoricamente negativa. Não existe a
oposição política para a reestruturação daquele país. Existe, sim, um mecanismo
de freio, que está junto a nós, trabalhando conscientemente. Há pessoas que
ainda não chegaram a uma compreensão dos imperativos do momento atual. Há quem
que, por força do costume, ainda não conseguiu se adaptar às novas condições.
Isso é natural em qualquer período de mudanças, em qualquer país. A causa da
reestruturação contínua da Revolução Socialista de outubro é a causa de hoje, o
povo soviético continua na sua política de reestruturação, a causa da revolução
que aconteceu no nosso país há 70 anos atrás. Essa política de reestruturação é
a nossa resposta ao desafio histórico da época atual, que o povo soviético
deverá enfrentar com dignidade.
Os planos
econômicos da União Soviética confirmam o caráter criador e pacífico das nossas
preocupações, como esta orientação pacífica da política interna está
estritamente ligada às nossas posições no contexto internacional. Não
escondemos, mas assinalamos que a paz é uma condição indispensável para nós,
para cumprirmos metas do nosso desenvolvimento. Infelizmente, temos que
constatar que a situação do mundo continua extremamente complicada e perigosa.
A corrida armamentista continua, continuam as explosões com armas nucleares.
Mais do que isto, estão sendo elaborados os planos de militarização, não só do
nosso pequeno planeta, mas até do espaço terrestre, já temos conhecimento dos
preparativos da chamada Guerra das Galáxias, ou Guerra das Estrelas. A situação
esta, a União Soviética enfrenta com o conceito da nova mentalidade política,
baseada na consciência de que o gênero humano deixou de ser imortal com o
aperfeiçoamento das armas nucleares. Nenhum dirigente de nenhum país, seja ele
da União Soviética, dos Estados Unidos, ou de qualquer outro país, tem o
direito de pronunciar a sentença de morte da humanidade. Não somos juízes,
assim como milhões e milhões de pessoas do nosso planeta não são criminosos que
devam ser condenados. A guilhotina nuclear deve ser destruída. A tempestade
nuclear, se um dia acontecer, vai levar tudo, sejam nós, socialistas,
comunistas, capitalistas, pecadores ou limpos na consciência. A nossa resposta
a esses desafios não se limita à proclamação de nossa política, da nossa
doutrina política. Elaboramos um sistema de segurança universal, abrangendo as
principais áreas: militar, política, econômica e humanitária.
Na área
político-militar, nós apresentamos um programa de liquidar, totalmente, as
armas nucleares até o ano 2000.
Este
programa foi divulgado por Gorbachev no dia 15 de janeiro de 1986. Estamos
convencidos de que aquela data ficará na história da luta pela salvação da
civilização humana. Antes, trouxemos uma proposta para suspender todas as
explosões nucleares e prorrogamos, repetidas vezes, a nossa moratória
unilateral aos anseios nucleares, e apelamos à outra parte para aderir à nossa
moratória. Já que isso não ocorreu, tivemos que retornar aos testes, mas
declaramos que estamos dispostos a suspender a qualquer momento, desde que haja
reciprocidade.
Vocês da
imprensa sabem que nas últimas conversações em Washington, entre nosso Ministro
de Negócios Estrangeiros e o Sr. Secretário dos Estados Unidos, foi tomada a
decisão de terminar a elaboração de um acordo correspondente para eliminar,
fisicamente, duas mil ogivas nucleares dos foguetes de meio alcance situados na
Europa. O Gorbachev vai viajar, em novembro ou dezembro, para os Estados
Unidos, com o objetivo de assinar esse acordo histórico, o primeiro na história
da humanidade, para eliminar duas mil ogivas nucleares.
Temos que
sublinhar outro ponto muito importante: ao apresentar proposta do desarmamento,
a União Soviética declara a sua disposição de aceitar qualquer controle,
inclusive inspeções, para garantir segurança, o que demonstra seriedade nas
nossas intenções.
Nós
estamos, decididamente, contra a chamada Guerra nas Estrelas. Na nossa opinião,
o espaço não deve se transformar numa arena de contraposições militares, o que
representaria uma imensa ameaça para a humanidade, mas sim num cenário de
cooperação pacífica. Lançamos nas Nações Unidas uma proposta sobre a criação da
Organização Espacial Mundial, o que vai ser uma boa alternativa. E o nosso
programa de Paz nas Estrelas, sendo a alternativa razoável para terminar com a
Guerra nas Estrelas.
Nós,
também, estamos convictos de que com os esforços conjugados de todos, temos que
resolver, temos que trabalhar o princípio “desarmamento para o desenvolvimento”.
Vocês sabem perfeitamente quanto dinheiro, quantos recursos materiais, quanto
inteligência da humanidade está voltada, hoje, para os atos de militares.
Estamos a favor de que cada medida do desarmamento seja acompanhada de
liberação de recursos adicionais para fins do desenvolvimento socioeconômico,
em particular dos países em desenvolvimento. Basta dizer que com estes
objetivos, na atual Conferência Internacional de Nova Iorque, recentemente
celebrada, dedicada a esse problema, a delegação soviética apresentou uma
proposta sobre a criação do Fundo Especial de Desarmamento para o
Desenvolvimento.
Na prática,
não existe nenhuma área em que a União Soviética não fizesse propostas
concretas, realistas e flexíveis. Mas, infelizmente, nem tudo depende de nós.
No que diz respeito à União Soviética, eu posso assegurar-lhes, com toda a
responsabilidade, que o nosso país vai continuar fazendo todo o possível para
afastar a ameaça nuclear, promover o desarmamento real e garantir o futuro
pacífico da humanidade.
No que diz
respeito ao quadro geral do relacionamento da União Soviética com outras
nações, ele se baseia nos princípios de coexistência pacífica e colaboração. E
é neste contexto que estão sendo resolvidas as nossas relações com o Brasil. A
atitude dos soviéticos para com o Brasil foi sempre caracterizada pelo
respeito, sincero interesse e simpatia. A experiência que venho trabalhando no
Brasil me dá motivos para dizer que tais sentimentos entre nossos povos são
recíprocos. Isso cria sólidos fundamentos para a cooperação bilateral entre os
dois países.
Assistimos, nos últimos tempos, ao
desenvolvimento das relações políticas brasileiras em várias áreas. Está sendo
desenvolvido o diálogo político, estão sendo realizadas visitas a alto nível
para ambos os países. Só nos últimos anos três delegações parlamentares
brasileiras visitaram a União Soviética, a última foi para a URSS no ano
passado, chefiada pelo Sr. José Fragelli, presidente naquela época do Senado
Federal.
Mantemos
também, entre as nossas delegações, nos diferentes fóruns mundiais, os
contatos. Nós estamos resolvendo o diálogo cultural entre os nossos dois povos.
Estamos nos esforçando para aumentar os laços na área econômica, comercial,
científica e tecnológica. O equipamento soviético está funcionando com êxito
nas hidroelétricas Capivara, construída no Rio Paraná, e Sobradinho, construída
no Rio São Francisco. Nós apreciamos muito o talento do pianista Artur Moreira
Lima, ator Ricardo Bandeira, cantora Eni Camargo. Esperamos com impaciência a
chegada de um conjunto de samba para a União Soviética. Resumindo, as relações
soviéticas e brasileiras têm ganhado cada vez mais progresso, contribuindo para
o fortalecimento da amizade entre os dois povos, contribuindo para a paz e
segurança nacional. Agora, quero responder a pergunta que me foi feita. Informo
confidencialmente que a União Soviética foi o primeiro país que atendeu o
pedido do Governo brasileiro para mandar um alto especialista em questões de
radioatividade. Este pedido foi feito à embaixada e, em poucas horas, o alto
especialista desembarcava no Rio de Janeiro. Ele está trabalhando no Rio, dando
aos brasileiros toda a nossa experiência no tratamento das doenças radioativas.
Nós tivemos, há pouco, a triste lição de Chernobyl, que nos mostrou como é
perigoso para a humanidade o átomo, quando sai fora do controle humano. Cerca
de 300 pessoas receberam grande dose radioativa durante os acontecimentos de
Chernobyl. Trinta e cinco pessoas receberam doses mais altas, cerca de dez
pessoas já morreram. Então, os acontecimentos desse tipo podem levar a
conseqüências imprevisíveis. O que aconteceu em Goiânia desperta em nós
soviéticos o sentimento de solidariedade e a nossa disposição de ajudar em tudo
o que for possível para o Brasil. Por ser um acontecimento deste gênero uma
coisa muito perigosa, nós temos que trabalhar não só no sentido de curar os
doentes radioativos, mas também temos que trabalhar com toda a atenção na área
onde ocorreu este episódio. Porque esta contaminação só vai sair daqui a três
ou cinco anos. Realmente, nós temos que trabalhar muito. E nós propomos,
respondendo a outro pedido do Governo brasileiro, ao nosso alto especialista em
física radioativa para ele viajar ao Brasil e ajudar a Comissão Nacional da
Energia Atômica a estudar o caso e tomar as medidas necessárias.
Quanto ao
robô, eu vou levar esta sugestão ao conhecimento do meu governo. Até agora, o
Governo brasileiro não se dirigiu a nós, à Embaixada Soviética, com um pedido
deste gênero, mas eu vou levar a sua sugestão, Vereador, ao conhecimento do
Governo soviético. E se o Governo brasileiro aceitar a nossa ajuda, neste
sentido, nós vamos trabalhar com boa disposição, com boa vontade para ajudar
vocês a liquidar este foco perigoso de radiatividade que surgiu em Goiânia.
Meu querido
Presidente, meus estimados Vereadores aqui presentes, eu quero agradecer,
sinceramente, a todos vocês este convite que me foi formulado para participar
desta reunião de hoje, e fico muito grato com a possibilidade de falar perante
vocês às vésperas da nossa grande festa nacional. Eu falei dos nossos
sentimentos, da nossa política interna, da nossa política externa e do nosso
desenvolvimento em geral. E tudo isso, o que se refere ao nosso desenvolvimento
geral, me inspira grande ânimo, como diplomata, de trabalhar ainda mais
energeticamente para o bem dos nossos povos, para o bem do relacionamento da
amizade e cooperação entre o Brasil e a União Soviética. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE:
Quero agradecer a presença do Ministro-Conselheiro da Embaixada da União
Soviética no Brasil, Sr. Wladimir Stoliarov, a todos os membros componentes
desta Mesa, e dizer uma vez mais da nossa honra, sobretudo, em podermos
recolher nos Anais da Câmara e, posteriormente, ler e meditar nas palavras que
V. Exa aqui pronunciou. Para nós é sempre um motivo de incentivo recebermos não
só informações, mas, sobretudo, podermos acolher idéias, e trazermos conteúdos
objetivos para cada um se orientar a seguir o caminho da sua inteligência, da
sua ação e da sua atividade em benefício da cidade de Porto Alegre, e o que
mais for possível a nós, como Casa do Povo de Porto Alegre, mas, sobretudo,
sendo a Casa do Povo de Porto Alegre, queremos dizer a V. Exa que foi uma honra
para nós a sua presença. Muito obrigado.
Suspenderemos
a Sessão por dois minutos.
(Suspende-se a Sessão às 17h40min, nos
termos do art. 84, II, do Regimento Interno.)
O SR. PRESIDENTE (às 17h47min): Informo aos Srs. Vereadores que passaremos à
verificação de “quorum” para a Ordem do Dia. Solicito ao Ver. Cleom Guatimozim
que secretarie os trabalhos, efetuando a chamada dos Srs. Vereadores.
(O Sr.
Secretário “ad hoc” procede à verificação de “quorum”.)
O SR. SECRETÁRIO “AD HOC”: Há 14 Vereadores presentes, Sr. Presidente.
O SR. ARTUR ZANELLA (Questão de Ordem): Antes do encerramento da Sessão, que me parece
inevitável, gostaria de obter de V. Exa a informação de como eu devo proceder,
pois encaminhei um PI no dia 7-10, que chegou hoje e foi apregoado. Mas, nesse
ínterim, hoje mesmo, recebi as informações solicitadas; eu queria anular este
PI, não encaminhá-lo. Consulto a V. Exa se seria um Requerimento oral?
O SR. PRESIDENTE:
Pediria a V. Exa que subscrevesse o documento que a Mesa sustará a tramitação,
de vez que anteriormente os PIs eram votados. Aí teria que levar para o
Plenário a votação. Como hoje eles não são votados, V. Exa., sendo o titular do
PI, V. Exa poderá requerer e será sustado imediatamente.
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Queria requerer a V. Exa que, em conformidade com
parecer da Comissão de Justiça da Casa, em que basta a presença de 11
Vereadores para se iniciar o processo de discussão – mesmo não havendo “quorum”
– para que se iniciasse a discussão e, no curso da Sessão, quando se chegasse
ao “quorum” qualificado para a votação, então nós poderíamos iniciar os
trabalhos e, evidentemente, após teria que se fazer um levantamento para ver no
momento da votação, se há o “quorum” necessário. Sou grato a V. Exa.
O SR. PRESIDENTE: O
Sr. Secretário “ad hoc”, que neste momento passa a Secretaria “ad hoc” à
Vice-Presidente da Casa, informa que neste momento há “quorum”. A Mesa consulta
o Sr. Secretário”ad hoc” quantos Vereadores se encontram no Plenário.
A SRA. SECRETÁRIA “AD HOC”: A Secretaria informa que existem presentes no Plenário
17 Vereadores, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE:
Há “quorum”. A Mesa informa que irá submeter o Parecer da Comissão de Justiça
ao Plenário.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr. Presidente. O Parecer da Comissão de Justiça não
cria um fato novo, apenas transcreve o que diz o Regimento Interno da Casa, e
que é tradição nesta Casa. V. Exa. conhece. Então, não cria um fato novo.
O SR. PRESIDENTE:
V. Exa. tem inteira razão. Apenas a Presidência da Casa queria dar esta interpretação
que V. Exa deu, e foi admoestada por Vereadores desta Casa, que deveria assim
proceder.
O SR. ARANHA FILHO (Questão de Ordem): Sr. Presidente, fora as questões que foram levantadas
aqui, acho de extrema validade, principalmente porque incorremos neste problema
no dia de hoje. No que se refere ao uso do Grande Expediente para homenagear.
Não sei se algum Vereador solicitou à Mesa ou requereu para que tomasse uma
posição. Faltam apenas 60 dias para esgotar o nosso Ano Legislativo. Acho muito
importante que a Mesa tome uma providência a respeito, numa reunião com as
Lideranças da Casa. Se algum Vereador não entrou com este Requerimento, eu
entraria com este Requerimento.
O SR. PRESIDENTE: V.
Exa entra com Requerimento de trancamento de qualquer apreciação pelo Plenário
de Sessões?
O SR. ARANHA FILHO:
Absolutamente. Estou encaminhado à Mesa para uma decisão.
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu reitero e participo,
primeiramente, da manifestação do Ver. Aranha Filho, e acuso mais o seguinte:
além do problema do Grande Expediente, esta Mesa, presidida por V. Exa.,
deferiu que as Sessões Solenes das terças e quintas-feiras fossem realizadas às
17 horas, para que às 16 horas pudessem operar normalmente as Comissões
Permanentes desta Casa. No entanto, Sr. Presidente, o que vem ocorrendo é uma
transgressão a esta determinação, porquanto no dia 29 já há uma Sessão Solene
novamente às 16 horas. Estabelece-se um critério para funcionamento perfeito da
Casa e, imediatamente após uma decisão séria e responsável, iniciam-se gestões
e pequenas acomodações que ferem o princípio já decidido. Recebi uma
comunicação de que uma Sessão Solene seria novamente às 16 horas, tornando
letra morta uma decisão de V. Exa.
O SR. PRESIDENTE:
A Mesa pediria a V. Exa que encaminhasse qual a Sessão Solene.
O SR. ISAAC AINHORN: Sessão Solene do dia 29 de outubro. Proposição do Ver. Hermes
Dutra.
O SR. PRESIDENTE: Salvaguardam-se
as Sessões Solenes cujos convites já foram entregues.
O SR. ISAAC AINHORN: Não é o caso.
O SR. PRESIDENTE:
Se não for, a Mesa irá rever. Foram respeitados os convites já enviados.
O SR. HERMES DUTRA (Questão de Ordem): O Ver. Isaac Ainhorn fez ilações que não são costume
de V. Exa. V. Exa. disse que a Mesa deliberou que as Sessões Solenes fossem às
17 horas. Não é verdade. Há um Requerimento de minha autoria, aprovado pelo
Plenário, para que as Sessões fossem às 17 horas, que não estava sendo cumprido
pela Mesa que as marcava para as 16 horas. Ainda este Vereador, muito antes do
Ver. Isaac Ainhorn, fez diretamente à presidência e não pela tribuna nem pela
imprensa - pois este Vereador não quer aparecer e quer, sim, que os trabalhos
tenham um bom andamento -, ponderações em relação de que as Sessões Solenes não
deveriam ser às 16 horas, e invoco o testemunho de V. Exa sobre o assunto. V.
Exa concordou e reconheceu que as Sessões Solenes deveriam ser às 17 horas e
resguardou que aquelas cujos convites tinham sido enviados seriam mantidas no
horário determinado anteriormente.
Acho que o Ver.
Isaac Ainhorn não tem autoridade para falar se os convites foram ou não
enviados, porque quem faz os convites ou é a Presidência ou o Vereador
requerente. Informo ao Ver. Isaac Ainhorn que os convites da Sessão do dia 29
foram impressos no mês passado e que já estão sendo distribuídos aos milhares,
pois minhas Sessões Solenes, como sabe V. Exa, que é um freqüentador exclusivo,
o povo lota as dependências da Casa. Sou grato.
O SR. PRESIDENTE:
A Mesa convidará todos os Vereadores a examinarem a agenda e está à disposição
para isso.
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, houve algumas colocações do Ver.
Hermes Dutra que eu julgo ser necessária uma resposta. Em primeiro lugar, este
Vereador requereu, da tribuna, onde é lugar de Vereador, que houvesse esse
procedimento, porque na prática, se o Ver. Hermes Dutra, há dois anos fez esse
Requerimento, infelizmente ele não está sendo cumprido. Então, este Vereador
nem tinha conhecimento disso, porque este Vereador, que não está aqui há dois
anos, não é obrigado a ter conhecimento de requerimentos que não foram sequer
cumpridos. O que eu observava é que as reuniões da Comissão de Transportes, a
qual eu presido, não conseguiam ser realizadas porque havia Sessões Solenes.
Daí eu requeri e a Mesa deferiu de plano, como V. Exa é testemunha. Agora, se
os jornais noticiam ou não, é outro problema também que não é da alçada deste
Vereador.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr. Presidente, se continuarem as Questões de Ordem
impertinentes ao processo de discussão e votação, vamos entrar noite adentro e
não vamos votar nada.
O SR. PRESIDENTE:
A Mesa, hoje, concorda com V. Exa., Ver Clóvis Brum.
Havendo “quorum”,
passamos à
PROC.
1402 – PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO N° 038/87
que autoriza o Executivo Municipal a aplicar recursos de operação de crédito e
dá outras providências. COM
SUBSTITUTIVO.
–
da CJR, CFO e CUTHAB. Relator-Geral, Ver. Pedro Ruas:
pela aprovação.
– da CJR, CFO e CUTHAB. Relator-Geral, Ver. Isaac
Ainhorn: pela aprovação.
(Obs.:
Art. 70, § 2º, “b”, do RI.)
O SR. CLÓVIS BRUM:
Sr. Presidente, agora entramos no regime de votação. Eu solicito verificação de
“quorum”.
O SR. PRESIDENTE:
A Mesa solicita à Sra. Secretária que proceda à chamada nominal dos Srs.
Vereadores para verificação de “quorum”.
(A Sra.
Secretária “ad hoc” procede à chamada nominal dos Sr. Vereadores.)
A SRA. SECRETÁRIA “AD HOC”: Há 19 Vereadores presentes, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE:
A Mesa informa aos Srs. Vereadores que, feita a verificação de “quorum” e
fechado o encaminhamento do Projeto apregoado, a Mesa não colocará em votação
os Processos nos 1402 e 2104 e o Processo nº 2174, de vez que os
mesmos são regidos pelo art. 70, § 2º, do Regimento Interno, que exige 2/3 dos
Vereadores presentes para a votação.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr. Presidente, face à inexistência de “quorum”, não
há outra saída para a Mesa senão levantar os trabalhos.
O SR. PRESIDENTE:
Ver. Clóvis Brum, a Mesa tem mais de um processo. A Mesa deseja submeter um
Requerimento referente ao Processo nº 1255, PLE nº 40/87.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Não quero ser impertinente, mas acho que a Mesa vai
ter que rasgar o Regimento Interno agora. Só tem uma solução e está claro no
Regimento: “... questionada, por qualquer Vereador ou pela Presidência, a
verificação de ‘quorum’...” Não havendo “quorum” para a votação da matéria, e a
matéria é esta que acabamos de discutir, só tem uma saída: levantam-se os
trabalhos...
O SR. PRESIDENTE:
Mas, Sr. Vereador, existe um outro Projeto de Lei.
O SR. CLÓVIS BRUM:
Mas, Sr. Presidente, não se pode atropelar o processo de votação. Não tendo
“quorum”, levantam-se os trabalhos.
O SR. PRESIDENTE:
Para um processo que exija “quorum” qualificado.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM (Questão de
Ordem): Sr. Presidente, é óbvio que se não há “quorum” para um processo e
há para outro, passa-se ao outro processo.
O SR. PAULO SANT’ANA (Questão de Ordem): Sr. Presidente, um Projeto só pode deixar de ser
votado se alguém retirá-lo, se houver adiamento de votação daquele projeto.
Ninguém retirou este Projeto. Se não há “quorum” para votá-lo, tem que se
levantar os trabalhos. Como é que V. Exa. vai deixar de votar o Projeto sem
outra alegação que não seja a falta de “quorum”? Como a alegação é falta de
“quorum”, encerram-se os trabalhos.
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, nós devemos fazer uma interpretação de
natureza integrativa, porque essa é a finalidade e o sentido da própria reunião
do Legislativo. Há no presente Projeto um “quorum” qualificado de 22, se não há
para este, há o “quorum” para os outros, então, conseqüentemente, os outros
devem ser examinados. Este é o bom senso.
O SR. PAULO SANT’ANA (Questão de Ordem): E este, o que se faz com ele? Ninguém retirou. Ele tem
que ser votado.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr. Presidente, não fomos inteligentes e temos de nos
penitenciar. A saída legal para o impasse seria antes da votação, na fase de
discussão dessa matéria, ter encaminhado à Mesa um requerimento pedindo a
inversão da Ordem do Dia para os processos subseqüentes. Esse seria o
encaminhamento legislativo normal. Não ocorrendo isso, e tendo este Vereador, à
luz do art. 71, pedido a verificação de “quorum”, diz o referido artigo: “a
declaração de ‘quorum’, questionada ou não, será feita pelo Presidente após a
chamada nominal dos Vereadores”. Diz o parágrafo único: “verificada a falta de
‘quorum’ para a votação da Ordem do Dia, será levantada a Sessão, perdendo o
Vereador ausente a parte variável da remuneração do dia”. Esse é o Regimento
Interno, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE:
Tendo ouvido os Srs. Vereadores, a Mesa delibera o seguinte: 1º) determina ao
Sr. Diretor Legislativo que só coloque os projetos por ordem cronológica, ou
seja, aqueles que têm “quorum” qualificado terão de vir por último para não
obstaculizar a pauta; 2°) resolve levantar os trabalhos, tendo em vista que a
CJR ainda não examinava essa questão cronológica e, portanto, será tomada a
medida cautelar de levantar a Sessão. Não há “quorum”.
(Levanta-se a Sessão
às 18h15min.)
* * * * *